O pastor é apenas um dos cargos eclesiásticos que existem no cristianismo. Além dele, existem também o bispo, o apóstolo, o reverendo, etc. Mas será que existe diferença entre os quatro? E em relação a hierarquia, quem está acima? No início do cristianismo, era a igualdade. Na vida andarilha, à margem das regras religiosas, os seguidores de Jesus viam a autoridade fluir naturalmente do carisma do Mestre e aquilo era o bastante. Quando “dois ou três” se reuniam em seu nome, qualquer conflito ou divergência podia ser resolvido por um membro da comunidade, fosse ele homem ou mulher. Como lembra o historiador e teólogo luterano Martin Dreher, em A Igreja no Império Romano, “Jesus não é patriarcal, e as tradições evangélicas também não”. Naquela atividade missionária que encarnava a esperança da transformação do mundo, onde eram eliminadas as diferenças raciais, sociais e de gênero – não havia dominadores nem dominados –, Dreher encontra a base para a aceitação da mulher “como discípula, apóstola, teóloga e presbítera”. Só depois, o apóstolo Paulo, tentando adaptar a fé cristã ao patriarcado vigente na cultura greco-romana, sugeriu que a mulher entrasse em submissão, recebendo como compensação o amor do marido. Estava lançado o “patriarcado do amor” e o homem tornou-se a primeira autoridade religiosa do cristianismo.
Os sistemas de um governo religioso foram se sofisticando com a institucionalização da igreja. Surgiram as autoridades eclesiásticas, numa hierarquização crescente que desaguou no episcopado monárquico por volta do ano 140, ou seja, a liderança da comunidade centrada em uma só pessoa, o bispo. O título de bispo, que permaneceu muito ativo entre os católicos romanos, tornou-se raro na Reforma. Na passagem para o século 20, apenas a Igreja Anglicana e sua dissidente, a Metodista, incorporavam o bispado, enquanto que outras igrejas jamais viriam a adotá-lo. Se os evangélicos parecem ter se acostumado com os bispos, agora é a vez dos apóstolos se multiplicarem nos púlpitos e nos meios de comunicação. Em Efésios 2, está registrado que a família de Deus é edificada sobre “o fundamento dos apóstolos e profetas”, dons que encabeçam a lista dos serviços ministeriais citados na mesma epístola. Se para alguns teólogo, isto significa que “os ensinos doutrinários dos apóstolos estão ligados ao momento de fundação da igreja” e que “apóstolos são somente aqueles que estiveram com Jesus (incluindo Paulo)”, para outros, “o apóstolo continua sendo a função mais importante da vida da igreja”. Para eles, que acumulam este ministério com o cargo de bispo primaz da Igreja, “assim como foi necessário ungir no passado apóstolos e profetas, Deus o faz de novo por uma urgente necessidade de expansão do Reino, trazendo revelações às nações, porque os tempos do fim se aproximam”. O termo “pastor”, como significando uma função nas igrejas protestantes e evangélicas dos nossos dias, não me parece que haja boa base bíblica neotestamentária para definir o termo. Essa palavra aparece várias vezes no Novo Testamento, quase sempre referindo-se ao pastor das ovelhas. Algumas vezes, Cristo serve-se dessa alegoria para expressar o que deve ser o crente com responsabilidade nas igrejas. Não vamos mencionar as passagens que se referem aos pastores do campo, sem nenhum outro significado, como no caso dos vulgares pastores a quem os anjos apareceram quando Jesus nasceu. Mas vejamos as seguintes passagens.
Mateus 9:36 É uma alegoria em que se compara o pastor das ovelhas à ação do pastor na igreja.
João 10:1/16 Esta é a principal passagem, em que Cristo se identifica como o Pastor das ovelhas e a Porta do aprisco das ovelhas. Enquanto o verdadeiro pastor dá a sua vida pelas ovelhas, o mercenário foge quando há perigo, ou como diríamos nos nossos dias, quando o dinheiro da igreja se acaba, ou outra igreja que lhe oferece melhor salário.
Mateus 25:32, Mateus 26:31, Hebreus 13:20, I Pedro 2:25, I Pedro 5:4 Onde vemos Cristo como o Pastor da IgrejaEfésios 4:11 Esta passagem refere-se nitidamente ao cargo de pastor na Igreja
Judas 1:12 Refere-se aos falsos pastores.
Podemos também examinar o que as Escrituras nos dizem sobre “pastorear” ou “apascentar”.
Mateus 2:6 Refere-se a Cristo como Pastor do povo de Israel.
I Pedro 5:1/2 Pedro incentiva os anciãos como ele, a apascentar o rebanho do Senhor. Podemos concluir, que não há uma definição com rigor jurídico, do que seja um “pastor” numa igreja cristã. Inicialmente, era uma simples alegoria, em que Cristo se comparou a Ele próprio com um pastor.
Já durante época dos apóstolos, o termo “pastor”, foi aplicado aos dirigentes das igrejas, mas certamente sem a pesada carga teológica que adquiriu através dos tempos.
O apóstolo Pedro, na última passagem que mencionámos (I Pedro 5:1/2), é bem claro ao afirmar:
1. Aos anciãos, pois, que há entre vós, rogo eu, que sou ancião com eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e participante da glória que se há de revelar:
2. Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade;
Pedro não se apresenta com qualquer privilégio da sua parte, mas ele se identifica como simples ancião (ou presbítero), assim como muitos outros que havia certamente em todas as igrejas do primitivo cristianismo. Ele incentiva os anciãos, ou idosos, ou pessoas experientes a apascentar, ou pastorear o rebanho de Deus. Assim, Pedro considera todos os crentes, experientes e aptos para o ensino, como pastores. O dom ministerial de apóstolo tem sido motivo de algumas interpretações. Vamos tomar conhecimento do que dizem os dicionários a respeito desse assunto polêmico. (01) "Apóstolo (do grego apóstolos, enviado). Originário do grego, este vocábulo pode ser encontrado 79 vezes no Novo Testamento. Literalmente, significa: enviado. A princípio, era considerado apóstolo somente aquele que pertencia ao grupo dos doze. Mais tarde, com o desenvolvimento da Igreja, vemos Paulo defender, diante dos gálatas, sua autoridade apostólica. Em suas cartas, ele assim identifica-se: "Paulo, apóstolo de nosso Senhor Jesus Cristo". Além de Paulo, outros obreiros foram considerados como tais. E, hoje, temos apóstolos? Sendo um dom ministerial, segundo lemos em Efésios 4.8, podemos afirmar com segurança que os apóstolos jamais estiveram ausentes da Igreja. Embora não mais recebam o mesmo título, continuam a realizar o mesmo trabalho daqueles campeões que espalharam, de Jerusalém, a mensagem do Cristo. Como não considerar apóstolos a William Carey, ou a Daniel Berg e Gunnar Vingrem? Missionários, ou apóstolos, estes heróis de Deus continuam ativos na expansão do Reino" (Dicionário Teológico, Claudionor C. de Andrade). (02) "APÓSTOLO - Nome dos homens escolhidos por Jesus para serem testemunhas de vista dos acontecimentos de sua vida, para vê-lo depois de Sua ressurreição e dar testemunho dele à humanidade (Mt 10.2-42; At 1.21-22; 1 Co 9.1. Foram escolhidos sucessivamente, logo no princípio da vida pública do Salvador. Os apóstolos eram tidos como homens iletrados pelas altas dignidades judaicas, que tiveram diante de si a Pedro e a João (At 4.13). Nenhum deles possuía grau elevado de cultura. Jesus deu grande atenção ao seu preparo espiritual; ainda assim, até aos últimos dias, não tinham compreendido a missão de Cristo, acreditando que Ele dia estabelecer um reino temporal (Mt 20.20-28; Mc 10.35-45; At 1.6), dormiam na hora de sua angústia no Jardim (Mt 26.40) e o abandonaram no momento de Sua morte (Mt 26.56); Mc 14.50). Também eram chamados discípulos (Mt 11.1); 14.26; 20.17; Jo 20.2). Pedro, Tiago, filhos de Zebedeu, e João, possuíam compreensão mais clara das instruções do Mestre e o apreciavam melhor. Em três ocasiões diferentes se destacaram dos outros em privilégios especiais... As medidas tomadas para preencher o lugar vago no apostolado indicam que o número dos apóstolos fixados originariamente em doze, devia ser conservado, pelo motivo que este número correspondia ao número das doze tribos de Israel. Havia dois homens que possuíam as qualidades necessárias para serem eleitos, eram José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias. A sorte caiu sobre este que foi eleito em lugar de Judas (At 1.15-26; comp.com o v. 20 e Salmo 109.8). A descida do Espírito Santo no dia de Pentecoste produziu transformação espiritual nos apóstolos, habilitando-os para a grande obra para a qual haviam sido chamados - a evangelização do mundo (At 2.1-47). Paulo foi divinamente escolhido e chamado para a árdua tarefa de pregar o Evangelho aos gentios (At 9.1-31; 26.1-20). Não andou com Jesus enquanto esteve na terra, mas alcançou as qualidades apostólicas por tê-lo visto depois da sua ressurreição. Ele podia dizer como disse em sua carta aos Coríntios: Não sou eu apóstolo? Não vi eu a Nosso Senhor Jesus Cristo? (1 Co 9.11). Todos foram fiéis até à morte, e alguns, pelo menos, senão a maioria, selaram o seu testemunho de Jesus com o sacrifício de seu próprio sangue. A palavra apóstolo é aplicada, em sentido menos restrito em o Novo Testamento, a homens que possuíam dons apostólicos. Neste caso está, por exemplo, Barnabé, que foi companheiro de Paulo (At 13.3; 14.4-14). Este nome também é aplicado a Jesus, em Hebreus 3.1" (Dicionário da Bíblia, John D. Davis). Um bispo (do grego antigo επίσκοπος, "inspetor", "supervisor") é um título religioso presente em diversas confissões cristãs, tendo cada uma o seu conceito e suas tradições específicas. Antes do Cristianismo, o termo era utilizado para designar todo tipo de administrador (melhor tradução) nos domínios civil, financeiro, militar e judiciário. A Igreja Metodista, assim como as Igrejas Anglicanas, também é Episcopal em sua forma de governo. No entanto os bispos não são uma ordem especial ou diferente da ordem presbiteral. O bispo é apenas "primus inter pares". No metodismo, o episcopado surgiu na Conferência de Natal de 1784, que Fundou a Igreja Episcopal Metodista, em Baltimore, nos Estados Unidos. No Brasil, o primeiro bispo só foi eleito em 1930, ano da autonomia da Igreja Metodista do Brasil e em 1934 foi eleito o primeiro bispo metodista brasileiro, Rev. Cesar Dacorso Filho. Atualmente, os bispos compõem o chamado Colégio Episcopal. O episcopado na Igreja Metodista brasileira não é vitalício. E as tendências de Roma? Ah, essas me preocupam muito mais porque vêm sendo disseminadas como um rolo compressor e encontram terreno fértil para prosperar na ambição pelo poder que nossa alma costuma manifestar. A supervalorização dos títulos e das hierarquias é impressionante! Hoje no Brasil, termos como “bispo” e “apóstolo” deixaram de ter a conotação bíblica de ofício e ministério específico que Deus distribui soberanamente a alguns homens para se tornar uma espécie de condecoração, de honra ao mérito ou reconhecimento de poder (nem sempre espiritual, às vezes, meramente político). No começo não era assim. Quando a igreja nasceu em Jerusalém e enquanto durou a geração dos primeiros apóstolos, títulos não recebiam nenhuma ênfase. Em nenhum lugar na sua Bíblia você vai encontrar termos como “pastor”, “bispo”, “apóstolo”, “reverendo” precedendo o nome de quem quer que seja. Procure em sua chave bíblica a expressão “Apóstolo Paulo” ou “Bispo Timóteo”. Não encontrará! Não é que esses termos não fossem usados. É que não tinham a conotação de hierarquia e muito menos de pronome de tratamento que a eles se dá hoje. Eram simplesmente designações de função no meio do povo de Deus. Quando lemos: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo...”, estamos simplesmente vendo um homem definir seu ministério no corpo, sua função itinerante de implantador de igrejas e consolidador das obras nascidas sob seu serviço. Não envolvia pompa ou direito a “carteiradas”. Aliás, é chocante comparar a descrição de Paulo sobre esse ministério e o que se vê hoje como padrão. Tente: “Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis.
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