Jesus,
um exemplo de vida.
Saber como era Sua rotina, o que fazia, por onde andava são algumas das perguntas de muitos sobre a vida e os hábitos de Jesus. "Jesus viveu como qualquer mortal, sentiu dor, fome, frio, teve gripe e até era comilão quando podia". "Ele foi totalmente humano e nunca experimentou divisão, como se parte dele fosse humana e parte não fosse."
Foi justamente uma figura mais humana que os historiadores apresentaram. Diferente da imagem tradicional, o "retrato falado" de Cristo parece mais real: um homem judeu, moreno, de cabelos curtos, com nariz e lábios grandes. Completamente contrária à imagem de face delicada, pele clara e olhos azuis. Alguns gostaram do novo rosto, outros se negam a acreditar que Cristo tenha sido tão parecido com os homens.
"Acho que este retrato faz parte da livre imaginação, não tem fundamento histórico. Mas ele é importante porque derruba a imagem renascentista da face de Jesus". "Ele não era loiro nem europeu. Por isso, o retrato é mais próximo da realidade e possibilita que as pessoas o vejam de uma forma mais humanizada."
Hoje, Jesus ainda continua perguntando a nós o que, segundo os evangelhos, perguntou aos discípulos um dia: "O que as pessoas dizem a respeito de mim? E para vocês mesmos, quem sou eu?" Mas ele explica que, sobre a pessoa de Jesus, há poucos documentos. "Jesus não escreveu nada. Os textos escritos por discípulos a respeito de Sua vida, além de parciais, são de quase meio século após Sua morte". "Estes relatos apresentam Jesus como homem sábio e bom".
Os evangelhos não se preocupam em contar a vida de Jesus. "A intenção é conservar Sua mensagem e o que Ele revelou sobre Deus”. "Alguns discípulos de Jesus escreveram recordações que tinham de Suas palavras e ações. Este é o material que temos sobre Sua vida nos evangelhos. Apesar de não serem documentos de História ou da Ciência, é por meio deles que podemos conhecer a pessoa de Jesus de Nazaré."
O que significa o nome "Jesus"?
Jesus é a tradução latina do hebraico Jeshu, abreviatura de Ieoshuá. É o mesmo nome de Josué, patriarca que, conforme a Bíblia, conduziu o povo hebreu na entrada da terra prometida. O nome Ieoshuá ou Jesus quer dizer: "O Senhor é salvação". Seu nome é Jesus. "Cristo" (ou Messias) é o título que Ele recebe dos que crêem Nele como enviado de Deus para o mundo. "Jesus Cristo" é a abreviatura da afirmação: "Jesus é o Cristo".
Quando Ele nasceu?
Filho de José (em hebraico Joseph, mesmo nome do patriarca, filho de Jacó) e Maria (em hebraico, Myriam), acredita-se que ele nasceu no ano 4 antes de nossa era. Possivelmente, quando Jesus nasceu, Sua mãe Maria tinha mais ou menos 15 anos e, José, 25. Acredita-se que Jesus perdeu Seu pai quando era adolescente.
Jesus teve irmãos?
Os Evangelhos se referem a alguns "irmãos de Jesus": Tiago, José, Judas e Simão. Fazia parte da cultura da época chamar também de irmãos outros parentes, como tios e primos. Daí algumas Igrejas, como a Católica, deduzem que esses personagens seriam Seus primos. Outras admitem que Maria teve esses outros filhos, depois de Jesus.
Onde Ele viveu?
Jesus cresceu em Nazaré, pequena cidade da Galiléia, que tinha apenas 500 habitantes, e até os 30 anos viveu e trabalhou com sua família. Naquela região, em épocas de plantio e colheita, todos trabalhavam no campo. Na entressafra, viviam de artesanato que, em grego, foi traduzido como carpintaria.
Como era fisicamente?
A população semita do Mediterrâneo era predominantemente de estatura baixa e magra. Jesus deve ter sido moreno queimado, olhos negros ou castanhos e cabelos encrespados. Na Galiléia daquele tempo, a moda era o costume romano de cortar os cabelos e deixar a barba curta. Como Nazaré era um dos focos de resistência contra a cultura grega, podemos imaginar Jesus barbudo, como os antigos judeus.
Que roupas Ele usava?
Os judeus da época se vestiam como as outras pessoas no mundo grego: uma túnica e, sobre esta, um manto. As túnicas na Palestina chegavam pouco abaixo do joelho, mas com o cinto, ficavam acima do joelho. A túnica era uma espécie de camisola de algodão ou linho, sem mangas. O manto era uma capa, geralmente de lã, adornada com franjas e bordas, que se usava sobre a túnica, servindo também como cobertor, tapete e até sela de cavalo. O cinto do manto era de couro ou de fazenda espessa, bastante comprido, para dar várias voltas na cintura. A sandália era de couro ou de pano e presa ao pé por cordões de algodão ou fitas de couro fino. Na cabeça, usava-se um turbante ou um lenço quadrado, preso por uma fita ao redor da cabeça, deixando a parte mais longa para trás protegendo o pescoço. O Evangelho de João conta que Jesus tinha um manto bonito e caro e este foi sorteado entre os soldados, ao pé da cruz.
Como eram Suas refeições?
No tempo de Jesus, comia-se uma grande refeição ao dia. A base da alimentação era farinha, azeite e vinho. Perto do lago, muito peixe e, nas festas, carne, principalmente de cabra, assada ou cozida na água. Além disso, pão, leite, queijo, manteiga, mel, legumes, lentilha, cebola, alho, pepino, repolho, couve-flor, amêndoas, cominho e coentro. As frutas eram uvas, figos, tâmaras e pêssegos. Todos dizem que Jesus gostava muito de comer.
E as casas onde morou?
As descobertas arqueológicas apontam que as construções eram geralmente feitas de pedra, de tijolos e, às vezes, madeira. As casas mais pobres constavam de um cômodo e tinham apenas um andar. A parte superior das casas era constituída por um terraço, cercado de parapeitos, ao qual era possível subir por uma escada exterior. Durante o dia, eram utilizados para secar as roupas ou os cereais e, nas noites quentes, para descansar ou dormir. As casas mais ricas chegavam a ter dois andares, poço, tanques e, às vezes, piscina. Logo na entrada ficava a sala de visitas e, ao lado desta, o quarto dos hóspedes e dos donos da casa. Mais adiante, as acomodações dos servos, a cozinha, a despensa. No segundo andar, os cômodos dos filhos e, quando não era embaixo, o dos donos da casa. As portas eram estreitas e baixas. Havia poucas janelas, sem vidro.
Em quantas cidades Jesus viveu?
Jesus cresceu em Nazaré e lá começou sua missão. Depois, morou um tempo em Cafarnaum, pequena cidade à margem do lago. Finalmente, como profeta itinerante, percorreu com os discípulos, a pé, as aldeias da Galiléia e foi em peregrinação a Jerusalém.
Como era Sua rotina?
Até os 30 anos, Jesus foi lavrador e artesão. Depois, tornou-se- rabino itinerante. Durante o dia, andava, visitava pessoas e realizava funções de curador popular. Quando vivia às margens do lago, pescava. À noite, conforme os Evangelhos, dormia pouco e tinha costume de retirar-se para um lugar mais tranqüilo e fazer vigílias de oração.
Como era a relação de Jesus com Sua família?
O Evangelho diz que Ele viveu como uma criança normal e era obediente ao pai e à mãe. Os evangelhos aludem que a família teve muita dificuldade para compreender a missão Dele. Quando atuava em Nazaré, Sua mãe e irmãos foram buscá-lo. O Evangelho de Marcos diz que eles pensavam que Jesus tinha perdido o juízo. Jesus não cedeu. A mãe e os irmãos pouco a pouco entraram no Seu grupo e se tornaram Seus discípulos.
Jesus sabia ler e escrever?
As pesquisas dizem que a Galiléia era uma região de muito estudo e muita gente letrada. Era costume o pai ensinar a Bíblia aos meninos desde cedo e foi assim também com Jesus. As mulheres eram discriminadas e não aprendiam a ler. Os galileus falavam aramaico, um dialeto da região muito parecido com a língua judaica. Conforme o costume, Jesus decorou muitos textos bíblicos para alimentar sua oração.
Ele teve alguma doença?
Um menino de família pobre deve ter tido doenças, como qualquer criança. A primeira dificuldade de um recém-nascido é regular o intestino. É bom a gente pensar que Jesus teve disenteria e gripe, como qualquer um de nós. Cresceu como um rapaz sadio. Na cruz, por causa das feridas e de não se mexer, pode ter sofrido tétano e gangrena.
Quando Jesus saiu de casa?
Mais ou menos aos 30 anos, Jesus saiu de casa para seguir um profeta que prometia uma mudança na situação do povo: João Batista. Tornou-se discípulo de João e foi por ele batizado no Rio Jordão. Conforme os Evangelhos, ao ser batizado, Jesus viveu uma experiência mística muito forte: recebeu de Deus a revelação de uma missão a cumprir. Escutou Deus chamando-o "meu Filho bem-amado". A partir daí, chamava Deus de "Abba": "Paizinho". Jesus passou a atuar como rabino popular, itinerante, na Galiléia e regiões vizinhas. Curava pessoas doentes, integrava marginalizados na comunidade e anunciava que Deus ama todo mundo.
O que Ele pregava?
Jesus não pregou a si mesmo nem fundou uma religião nova. Viveu a fé judaica e reinterpretou-a para torná-la acessível a toda a humanidade. Conviveu com pessoas que os religiosos marginalizavam como sendo pecadores e condenados por Deus. Integrou mulheres no seu grupo e lhes deu sinais de predileção. Isso provocou conflitos entre ele e chefes judeus. Em uma peregrinação que fez a Jerusalém, durante uma festa de Páscoa, foi preso e condenado à morte pelos romanos com a cumplicidade de autoridades judaicas, que tinham medo da Sua mensagem. Mais tarde, a comunidade dos discípulos reconheceu em Suas palavras e ações uma nova revelação do amor de Deus. A partir dos textos bíblicos, concluíram: "Nós acreditamos que o homem Jesus de Nazaré é o Filho de Deus. Isto significa que Ele tem com Deus uma relação filial extraordinária e particular e, a partir desta relação, Ele nos revela a verdade do amor de Deus para o mundo inteiro."
Jesus tinha a consciência de que era filho de Deus?
Sabia o papel que iria exercer?
Jesus foi totalmente humano e nunca experimentou divisão, como se parte dele fosse humana e parte não fosse. Passou fome e sede, sentiu-se cansado, em algum momento de má-digestão teve au hálito e passou por um período de crise e desânimo, como qualquer pessoa. A partir do batismo, começou a tomar consciência da missão que o Pai lhe confiava, de ser servidor do povo. Esta missão o levou à morte.
Como era a relação de Jesus com o judaísmo?
Jesus nasceu, cresceu e morreu na religião judaica. Nunca imaginou se separar da Sua ou fundar outra religião. Fazia críticas ao templo e aos religiosos, motivadas pela fé no judaísmo e por amor ao seu povo. Como todo judeu piedoso, diariamente recitava a oração do Shema e, a cada sábado, diz o evangelho, freqüentava a sinagoga e tinha o costume de ir em peregrinação a Jerusalém para as grandes festas da Páscoa, Pentecostes e Dedicação do Templo.
Qual era o perfil psicológico de Jesus?
Algumas passagens do Evangelho O mostram irritado, em outras, apresenta-se meio irônico. Como o povo da Galiléia, parece alegre e bem-humorado. É criticado por alguns por ter sido "comilão e bebedor de vinhos, amigo de prostitutas e de cobradores de impostos".
Quem era Seu melhor amigo?
Antes dos 30 anos, Ele vivia com parentes e vizinhos. Depois, acompanhou João Batista no deserto, que tornou-se Seu mestre e amigo. Depois, formou uma comunidade de amigos, dos quais os íntimos eram Pedro, Tiago e João. No grupo, Ele integrou algumas mulheres com as quais teve profunda relação de amizade e companheirismo.
Qual era o nível cultural dos apóstolos?
Em sua maioria, eram simples e de cultura rural. Mais tarde, incorporaram-se pessoas instruídas como Paulo e Lucas, que era médico.
Como Jesus enfrentou a morte?
Com medo, como qualquer um de nós. Várias vezes, quando sentia o risco, fugia. Mas chegou um momento em que Ele não podia mais escapar sem trair a missão. Então, Lucas diz que "Ele endureceu o rosto e caminhou para Jerusalém". Conforme os evangelhos, Ele se entregou para que não prendessem os seus amigos. No Jardim das Oliveiras, foi ao encontro dos soldados e disse: "Eu sou Jesus. Se é a mim que vocês estão procurando, deixem que estes aí possam ir embora."
E a ressurreição?
Materialmente não faz parte da história terrena de Jesus. A ressurreição não é a simples reanimação do cadáver de Jesus. De acordo com os evangelhos, Ele não voltou a esta vida. Ele recebeu do Pai uma vida nova. Deus confirmou tudo o que Jesus fez e disse. Na fé da gente, Jesus revela-se e se manifesta como alguém sempre vivo e atuante.
A JUSTIFICAÇÃO
A Justificação
Ponto de partida: Romanos 8.29-30. “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou”. Eis a ordem no argumento paulino: o pré-conhecimento divino, a predestinação, a chamada, a justificação e a glorificação. Todos estes elementos são mostrados como atos de Deus. E a santificação? É também um ato de Deus, mas depende de nós, também. Na raiz de tudo: o querer de Deus. Ele é o justificador.
UMA DEFINIÇÃO SEMÂNTICA - “Justificar” tem sua raiz no hebraico tsadaq, que significa “tornar reto”. No grego o termo é dikaioô, que tem o sentido mais jurídico de “absolver”, “declarar inocente”, o oposto exato de condenar. A doutrina da justificação trata desta questão: como um pecador culpado diante de Deus e condenado por seus pecados pode ser declarado inocente? Esta doutrina é o coração do protestantismo. Vale a pena ponderá-la.
JUSTIFICAÇÃO - Uma definição teológica: É o ato de Deus que redime os pecados de homens culpados e que os reputa retos, gratuitamente, por Sua graça, mediante a fé em Cristo, à base, não de suas próprias obras, mas do representante obediente à lei, que derramou seu sangue a favor dos mesmos, o Senhor Jesus. Para subsidiar as partes desta definição, vejamos Romanos 3.23-26, 4.5-8 e 5.18. Justificação é o termo que mais caracteriza a pregação de Paulo. Pode ser resumida a uma frase: Deus perdoa os pecados de quem crê em Jesus Cristo. A idéia é de um pecador condenado diante de um tribunal, e é realmente pecador, mas é declarado inocente. Principalmente em Romanos 4.5-8 vemos que “justificar” significa perdoar, cobrir os pecados e não imputar os pecados.Como pode ser isto? É o que buscaremos ver neste estudo.
UM JUIZ, UM TRIBUNAL E UM RÉU - A linguagem é mesmo de tribunal.
(1) Há um juiz: Gênesis 18.25, Salmo 7.11. Ele julga mesmo; Isaías 5.16 e 10.22. A vinda de Cristo, expressão máxima de sua graça, não significa que ele deixou de julgar. Pelo contrário, Cristo é o padrão pelo qual Deus julgará o mundo: Atos 17.31.
(2) Há um tribunal diante do qual todos compareceremos: Romanos 14.10-12, 2Coríntios 5.10, Hebreus 10.30-31 e 12.22-23.
(3) Há um réu: nós, como pecadores que somos. Vejamos 1Reis 8.46, Romanos 3.23 e 6.23. Este é o quadro: somos pecadores, estamos condenados por um justo Juiz e um dia prestaremos contas a ele. Precisamos ser absolvidos. Como? A RESPOSTA: O CORAÇÃO DA BÍBLIA
A resposta a esta pergunta é o coração da Bíblia. Sua síntese se encontra em Romanos 1.16-17. Foi a grandes descoberta de Lutero e descobri-la levou-o a uma mudança de vida que modificou o cristianismo para sempre. É a bela doutrina da justificação pela fé, que sustem toda a mensagem do evangelho. A expressão chave é o justo viverá da fé.
A partir daqui transcrevo um trecho de uma palestra que apresentei nas conferências teológicas ao campus do Seminário do Sul, em Cabo Frio, sobre Habacuque: Justiça e justificação caminham juntas nas páginas das Escrituras. O Deus justo justifica o pecador. E, quando há juízo, sempre há oferecimento de salvação. É assim com nosso profeta. Haverá juízo sobre Judá. Haverá juízo sobre os caldeus. Mas há salvação. É a Habacuque que devemos o profundo versículo "o justo viverá da fé". Este foi o lema da Reforma e deve ser uma lembrança viva em nossa mente: o homem é salvo pela fé. Foi o brado de Lutero: Sola fidei. E, constantemente, nos meus estudos dou graças a Deus por Lutero e seu entendimento. "Eis o soberbo! A sua alma não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá". Esta expressão final se encontra também em Romanos 1.17, Gálatas 3.11 e Hebreus 10.38. O "soberbo", em Habacuque, é o caldeu. Ele não tem a sua alma reta. O termo hebraico dá a idéia de "inchado". Parece que traduzir "alma", o hebraico nephesh , por "garganta", tem sentido: seu pescoço está inchado. Ele está inchado de sua arrogância. E é um tipo do pecador impenitente que confia em sua capacidade, e está inchado de orgulho por causa disso. "Justo", em Habacuque, é Judá. Não tem a força militar dos caldeus, mas viverá pela fé em Iahweh. São dois tipos bem retratados: o inchado, que confia em si, e o justo, que confia em Deus. Este vive pela fé. Não deposita sua confiança em nada que não seja o seu Deus.
Paulo tomou o texto de Habacuque na versão grega da LXX, como era seu costume. O termo grego é dikáios, que tem sido definido como "o estado aceitável a Deus que o pecador adquire mediante a fé pela qual abraça a graça de Deus, que lhe é outorgada na morte expiatória de Jesus Cristo" [1]. Parece haver uma grande mudança, porque Habacuque não fala de Jesus. Mas foi o termos que os tradutores da Septuaginta usaram. Foi aqui que Paulo compreendeu o que Habacuque queria dizer e transportou o conceito para dentro de sua teologia: "justo" é o que crê na obra de Cristo, confia nela, e não em seus méritos. É esta atitude que evita o juízo. "Fé", em Habacuque, é o hebraico emunah, que significa "firmeza". Vem de aman¸ que significa "firme até o fim". Como bem lembra Sayão, "o termo hebraico emunah tem a idéia de se estar vivendo de modo fiel, firmado na rocha, YHWH. O termo tem a ver com a ordem justa no mundo que depende de Deus para manter-se em equilíbrio..." [2] . Aplica-se, portanto, ao inteiramente dependente de Deus. O justo, aquele que é salvo, é quem crê, firmemente, sem se abalar crê até o fim. Isso nos ajuda a entender porque tantos aparentemente "salvos pela fé" se desviam e acabam se perdendo, enquanto nós, batistas, apregoamos com tanta ênfase a doutrina da justificação pela fé e para sempre. A verdadeira fé é a que permanece. Por isso lemos em 1João 2.19: "Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos". O justificado é justificado para sempre, porque firme até o fim.
OS EFEITOS DA JUSTIFICAÇÃO - Quais são os efeitos da justificação?
O primeiro de todos é livrar-nos da condenação. Ela responde à questão: como me salvar? Vejamos o texto de Romanos 8.31-39. Somos justificados, perdoados, pela fé em Cristo. Israel tentou a justificação pela lei e não conseguiu: Romanos 9.31-33. Nós, gentios, recebemos a justificação porque não dependemos da lei: Romanos 9.30. Cristo justifica o pecador: Romanos 10.4. É fácil ser justificado: Romanos 10.8-11.
O segundo é dar-nos paz: Romanos 5.1. Saber-se perdoado por Deus traz paz infinita. Deus nos perdoou os pecados! Quando cremos em Cristo Deus nos trata como se nunca tivéssemos pecado. Esta paz é mais que tranqüilidade emocional. É certeza de uma vida nova, de ser tratado de maneira diferente por Deus: Romanos 5.1-11.
O terceiro é produzir em nós o desejo de santificação, de abandonar o pecado. Alguém poderia perguntar: Então, se fui perdoado, se Deus usa de graça, posso pecar à vontade? A resposta é NÃO. A justificação faz de nós novas pessoas: Romanos 5.1-7. Aquela pessoa que amava o pecado foi crucificada na cruz de Cristo. Na realidade, Deus não perdoa nossos pecados. Deus os faz cair sobre Cristo. Isaías 53.4-11 mostra isso. Um justificado sabe quanto o pecado custa. Para ele, nada. Mas para Deus, muito. Custou a vida de seu único Filho, Jesus: João 3.16. O indivíduo justificado, por conseguinte, pode ficar certo que nada será capaz de separá-lo do amor de seu Deus (Rm 8.33-39, cf. 5.9). Sua glorificação é certa (Rm 8.30). A inquisição futura, perante o tribunal de Cristo (Rm 14.10 e segs.; 2Co 5.10) poderá privá-lo de certos galardões específicos (1Co 3.15), mas jamais de sua posição de justificado.
Ponto de partida: Romanos 8.29-30. “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou”. Eis a ordem no argumento paulino: o pré-conhecimento divino, a predestinação, a chamada, a justificação e a glorificação. Todos estes elementos são mostrados como atos de Deus. E a santificação? É também um ato de Deus, mas depende de nós, também. Na raiz de tudo: o querer de Deus. Ele é o justificador.
UMA DEFINIÇÃO SEMÂNTICA - “Justificar” tem sua raiz no hebraico tsadaq, que significa “tornar reto”. No grego o termo é dikaioô, que tem o sentido mais jurídico de “absolver”, “declarar inocente”, o oposto exato de condenar. A doutrina da justificação trata desta questão: como um pecador culpado diante de Deus e condenado por seus pecados pode ser declarado inocente? Esta doutrina é o coração do protestantismo. Vale a pena ponderá-la.
JUSTIFICAÇÃO - Uma definição teológica: É o ato de Deus que redime os pecados de homens culpados e que os reputa retos, gratuitamente, por Sua graça, mediante a fé em Cristo, à base, não de suas próprias obras, mas do representante obediente à lei, que derramou seu sangue a favor dos mesmos, o Senhor Jesus. Para subsidiar as partes desta definição, vejamos Romanos 3.23-26, 4.5-8 e 5.18. Justificação é o termo que mais caracteriza a pregação de Paulo. Pode ser resumida a uma frase: Deus perdoa os pecados de quem crê em Jesus Cristo. A idéia é de um pecador condenado diante de um tribunal, e é realmente pecador, mas é declarado inocente. Principalmente em Romanos 4.5-8 vemos que “justificar” significa perdoar, cobrir os pecados e não imputar os pecados.Como pode ser isto? É o que buscaremos ver neste estudo.
UM JUIZ, UM TRIBUNAL E UM RÉU - A linguagem é mesmo de tribunal.
(1) Há um juiz: Gênesis 18.25, Salmo 7.11. Ele julga mesmo; Isaías 5.16 e 10.22. A vinda de Cristo, expressão máxima de sua graça, não significa que ele deixou de julgar. Pelo contrário, Cristo é o padrão pelo qual Deus julgará o mundo: Atos 17.31.
(2) Há um tribunal diante do qual todos compareceremos: Romanos 14.10-12, 2Coríntios 5.10, Hebreus 10.30-31 e 12.22-23.
(3) Há um réu: nós, como pecadores que somos. Vejamos 1Reis 8.46, Romanos 3.23 e 6.23. Este é o quadro: somos pecadores, estamos condenados por um justo Juiz e um dia prestaremos contas a ele. Precisamos ser absolvidos. Como? A RESPOSTA: O CORAÇÃO DA BÍBLIA
A resposta a esta pergunta é o coração da Bíblia. Sua síntese se encontra em Romanos 1.16-17. Foi a grandes descoberta de Lutero e descobri-la levou-o a uma mudança de vida que modificou o cristianismo para sempre. É a bela doutrina da justificação pela fé, que sustem toda a mensagem do evangelho. A expressão chave é o justo viverá da fé.
A partir daqui transcrevo um trecho de uma palestra que apresentei nas conferências teológicas ao campus do Seminário do Sul, em Cabo Frio, sobre Habacuque: Justiça e justificação caminham juntas nas páginas das Escrituras. O Deus justo justifica o pecador. E, quando há juízo, sempre há oferecimento de salvação. É assim com nosso profeta. Haverá juízo sobre Judá. Haverá juízo sobre os caldeus. Mas há salvação. É a Habacuque que devemos o profundo versículo "o justo viverá da fé". Este foi o lema da Reforma e deve ser uma lembrança viva em nossa mente: o homem é salvo pela fé. Foi o brado de Lutero: Sola fidei. E, constantemente, nos meus estudos dou graças a Deus por Lutero e seu entendimento. "Eis o soberbo! A sua alma não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá". Esta expressão final se encontra também em Romanos 1.17, Gálatas 3.11 e Hebreus 10.38. O "soberbo", em Habacuque, é o caldeu. Ele não tem a sua alma reta. O termo hebraico dá a idéia de "inchado". Parece que traduzir "alma", o hebraico nephesh , por "garganta", tem sentido: seu pescoço está inchado. Ele está inchado de sua arrogância. E é um tipo do pecador impenitente que confia em sua capacidade, e está inchado de orgulho por causa disso. "Justo", em Habacuque, é Judá. Não tem a força militar dos caldeus, mas viverá pela fé em Iahweh. São dois tipos bem retratados: o inchado, que confia em si, e o justo, que confia em Deus. Este vive pela fé. Não deposita sua confiança em nada que não seja o seu Deus.
Paulo tomou o texto de Habacuque na versão grega da LXX, como era seu costume. O termo grego é dikáios, que tem sido definido como "o estado aceitável a Deus que o pecador adquire mediante a fé pela qual abraça a graça de Deus, que lhe é outorgada na morte expiatória de Jesus Cristo" [1]. Parece haver uma grande mudança, porque Habacuque não fala de Jesus. Mas foi o termos que os tradutores da Septuaginta usaram. Foi aqui que Paulo compreendeu o que Habacuque queria dizer e transportou o conceito para dentro de sua teologia: "justo" é o que crê na obra de Cristo, confia nela, e não em seus méritos. É esta atitude que evita o juízo. "Fé", em Habacuque, é o hebraico emunah, que significa "firmeza". Vem de aman¸ que significa "firme até o fim". Como bem lembra Sayão, "o termo hebraico emunah tem a idéia de se estar vivendo de modo fiel, firmado na rocha, YHWH. O termo tem a ver com a ordem justa no mundo que depende de Deus para manter-se em equilíbrio..." [2] . Aplica-se, portanto, ao inteiramente dependente de Deus. O justo, aquele que é salvo, é quem crê, firmemente, sem se abalar crê até o fim. Isso nos ajuda a entender porque tantos aparentemente "salvos pela fé" se desviam e acabam se perdendo, enquanto nós, batistas, apregoamos com tanta ênfase a doutrina da justificação pela fé e para sempre. A verdadeira fé é a que permanece. Por isso lemos em 1João 2.19: "Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos". O justificado é justificado para sempre, porque firme até o fim.
OS EFEITOS DA JUSTIFICAÇÃO - Quais são os efeitos da justificação?
O primeiro de todos é livrar-nos da condenação. Ela responde à questão: como me salvar? Vejamos o texto de Romanos 8.31-39. Somos justificados, perdoados, pela fé em Cristo. Israel tentou a justificação pela lei e não conseguiu: Romanos 9.31-33. Nós, gentios, recebemos a justificação porque não dependemos da lei: Romanos 9.30. Cristo justifica o pecador: Romanos 10.4. É fácil ser justificado: Romanos 10.8-11.
O segundo é dar-nos paz: Romanos 5.1. Saber-se perdoado por Deus traz paz infinita. Deus nos perdoou os pecados! Quando cremos em Cristo Deus nos trata como se nunca tivéssemos pecado. Esta paz é mais que tranqüilidade emocional. É certeza de uma vida nova, de ser tratado de maneira diferente por Deus: Romanos 5.1-11.
O terceiro é produzir em nós o desejo de santificação, de abandonar o pecado. Alguém poderia perguntar: Então, se fui perdoado, se Deus usa de graça, posso pecar à vontade? A resposta é NÃO. A justificação faz de nós novas pessoas: Romanos 5.1-7. Aquela pessoa que amava o pecado foi crucificada na cruz de Cristo. Na realidade, Deus não perdoa nossos pecados. Deus os faz cair sobre Cristo. Isaías 53.4-11 mostra isso. Um justificado sabe quanto o pecado custa. Para ele, nada. Mas para Deus, muito. Custou a vida de seu único Filho, Jesus: João 3.16. O indivíduo justificado, por conseguinte, pode ficar certo que nada será capaz de separá-lo do amor de seu Deus (Rm 8.33-39, cf. 5.9). Sua glorificação é certa (Rm 8.30). A inquisição futura, perante o tribunal de Cristo (Rm 14.10 e segs.; 2Co 5.10) poderá privá-lo de certos galardões específicos (1Co 3.15), mas jamais de sua posição de justificado.
A PROPICIAÇÃO
A Propiciação.
O termo é enigmático, e muitos nunca ouviram falar dele, a não ser em algum versículo bíblico em que a palavra aparece. E talvez não tenham notado-o. A melhor explicação para o termo é que nos diz que “propiciação significa a remoção da ira mediante a oferta de algum presente”. Era um ato presente na política internacional no Oriente antigo, quando um rei de alguma nação, para se manter seguro, enviava presente a outro rei, de uma nação mais forte. Era um gesto destinado a cultivar boas relações.
O verbo hebraico que traz a idéia de propiciação é kipper, com a idéia de fazer amizade, de juntar partes opostas e até mesmo em conflito. No Novo Testamento, a idéia mais próxima é “reconciliação”. A idéia do Novo Testamento se entende bem em 2Coríntios 5.21. O sentido do texto é que Deus ofereceu Cristo como presente ao mundo para fazer as pazes com o mundo. É um conceito que nos parece estranho, mas mostra que, no Novo Testamento, JEOVA, O Deus de Israel toma a iniciativa, em Jesus, de propor as pazes ao homem.
ALGUMAS OBJEÇÕES - Como “propiciar” tem a idéia de fazer as pazes, de aceitar um presente para fazer amizade, muita gente se escandaliza. Parece que está se subornando Deus. Mas, como veremos, é ele quem a oferece e não quem a recebe. Outros alegam que a ira de Deus é superdimensionada neste aspecto. Mas a Bíblia fala de um Deus que se ira e que sente indignação: Salmo 7.11-12. É verdade que Deus é tardio em irar-se (Ne 9.17), mas é certo que se ira. A Bíblia mostra que nele misericórdia e ira se completam: Números 14.18.
A propiciação surge exatamente aqui: como temperar ira e misericórdia? Em vez de objeção, a ira de Deus torna necessária a propiciação. Esta ira divina não é um descontrole emocional, mas é parte integrante da moralidade de Deus. Se ele não se indignasse contra o erro e contra o pecado, não seria Absolutamente Santo. Exatamente por ser santo Deus sente ira contra o pecado. Exatamente por ser santo é que tem misericórdia. Aqui surge a propiciação.
O PONTO CENTRAL DA PROPICIAÇÃO - O ponto central da propiciação é este: como remover a ira de Deus? No Antigo Testamento a resposta é clara: a ira não se remove. Ela se desvia. Veja-se o Salmo 78.38. O pecado tem um preço (Ez 18.20 e Rm 6.23). O pecado é tão sério aos olhos de Deus que exige a morte do pecador. A única maneira de se aniquilar o peso do pecado é com a morte. Deus instituiu o sacrifício no culto do Antigo Testamento para ensinar este aspecto. É a morte, através do derramamento do sangue, que faz a propiciação ou expiação dos nossos pecados. A resposta ao ponto central é esta: o sangue faz a expiação (que significa de dois fazer um ou reaproximar dois que estão distantes e em inimizade), idéia parecida com a propiciação. Esta última avança por incluir a idéia de um presente para de dois fazer um.
A IDÉIA NO TABERNÁCULO - O tabernáculo foi o templo móvel de Israel, construído durante a peregrinação pelo deserto. Era um lugar provisório, morada de Deus, lugar de encontro pessoal com Deus (Êx 33.7-11). O tabernáculo tinha o lugar santo, onde ficava o povo, e o santíssimo ou santo dos santos, onde o sumo sacerdote entrava uma vez por ano, para fazer a expiação do pecado do povo. No santíssimo ficava a arca da aliança. O nome da tampa da arca era kaporeth, que vem de um verbo da família kpr, que significa “propiciar”. Veja-se Êxodo 25.17-22. Como disse Hoof: “aí o mais perfeito ato de expiação era realizado uma vez por ano pelo sumo sacerdote” (O Pentateuco, p. 145). Devemos ter isto em mente: o lugar mais importante e solene do tabernáculo era onde acontecia a propiciação. Sangue se oferecia a Deus para sua ira se afastar do povo. O sangue era derramado exatamente sobre a tampa da arca, chamada “propiciatório”. “Propiciação” e libertação do poder do pecado se juntam desde cedo, na revelação bíblica. Se a Bíblia não se detém em explicitar a doutrina, a figura está bem presente em suas páginas.
Neste sentido, o propiciatório simbolizava a cruz de Cristo, onde se efetuou o perdão dos pecados, mas com uma diferença: a obra de Cristo não tem prazo de validade. O perdão alcançado no tabernáculo e mais tarde no templo tinha um ano de duração. A cruz é o propiciatório do Novo Testamento, mas com um perdão eterno, sem necessidade de repetição (Hb 9.11-14). A cruz resolveu o problema do pecado para sempre. Cristo é o Cordeiro que remove o pecado do mundo (Jo 1.36). A propiciação, no Antigo Testamento, era um símbolo da obra perfeita de Cristo, em remover nossos pecados e nos reconciliar com Deus (2Co 5.18-19).
Mais uma questão, que não é curiosidade. O dia em que o sumo sacerdote entrava no santíssimo (yom kippur, o dia do perdão), “em tempos posteriores era essa também a única ocasião em que o nome de Deus, portador de sua promessa de ajuda e aliança, era perceptivelmente proferido” (Sacrifício e Culto no Israel do Antigo Testamento, p. 102). O nome sagrado de Deus, que não se pronunciava mais nos tempos de Jesus, era a mais exata expressão do caráter do Pai. Pois bem, o caráter do Pai está ligado à propiciação. É seu caráter que nos garante o perdão dos pecados. Não é o nosso caráter, mas o dele.
A OBRA DE CRISTO - A propiciação é um ato de misericórdia de Deus, quando esta triunfa sobre sua ira. A oração do publicano, na parábola contada por Jesus ilustra isto. Em Lucas 18.13, o que o publicano pede, nas palavras de Jesus, é que Deus seja “propício” a ele, que Deus seja ou faça sua propiciação. Ele precisava de perdão. O fariseu achava que tinha aceitação divina porque era bom. Deus lhe devia isto. O publicano sabia que não era bom, nada tinha de bom, e que só podia alcançar o favor de Deus como um presente divino. Ele devia a Deus. Jesus sintetiza bem sua missão, nesta parábola. Ele, Jesus, é o presente divino para reaproximar as duas partes distanciadas, a divina e a humana. Ao mesmo tempo mostra dois tipos de pessoas. Uma que julga que não precisa de perdão, que Deus deve estar muito contente com ela. Outra que reconhece a necessidade de perdão e sabe que não merece e pede um favor a Deus.
Segundo Hebreus 2.17, Jesus fez a propiciação pelos nossos pecados. Ele mesmo presenteou Deus Pai com sua vida para nos conseguir o perdão. Nesta declaração, a oferta é do Filho. Não há choque com outros textos que dizem que o Pai ofereceu o Filho. É que a epístola aos Hebreus põe o Filho como agente no processo da salvação, em sua linha de argumentação. E lembremos que a Trindade não entra em conflito, mas age sempre em sintonia.
Em 1João 2.2, Jesus é a propiciação pelos nossos pecados. É por isto que ele nos defende, como Advogado, junto ao Pai (1Jo 2.1) Tínhamos, como o publicano da parábola, um débito que não podíamos pagar. Jesus o pagou e por isto pode nos defender. Não devemos mais nada a Deus porque Jesus pagou o preço dos nossos pecados com a sua própria vida. Não se paga um débito duas vezes. Vale a pena a citação do Novo Dicionário da Bíblia neste texto: "Tudo isso nos ajuda a perceber que, aqui, a ‘propiciação’ deve ser tomada em seu sentido usual nas Escrituras.
O escritor sagrado estava descrevendo a atividade de Jesus em prol dos homens, como a única coisa que pode fazer desviar a ira divina” (p. 1331). O texto de 1João 4.10 avança significativamente nesta idéia. O Filho, Jesus, é o presente dado pelo próprio Pai. Difere do pensamento do autor de Hebreus. Mas o que realmente interessa é que não é um presente nosso. Não havia nada que pudéssemos oferecer. Então, o Pai ofereceu o Filho. Aqui, não é o Filho que se autodoa ou autopresenteia ao Pai, mas é o Pai quem oferece o Filho ao mundo. A morte de Cristo é um gesto de amor do Pai para conosco. Esta idéia é confirmada por Romanos 3.25-26, onde se vê que é Deus Pai quem oferece o Filho como propiciação. Quem crê na eficácia do sangue de Cristo (não de animais, mas do sangue de Cristo) é justificado. Conforme o versículo 25, Deus deixa de lado os delitos que o pecador outrora cometeu. Um rei guerreava contra outro por ambição ou porque se sentira ofendido. O pecado ofende a Deus e o levaria a nos guerrear, mas em Cristo ele oferece à humanidade a mão estendida para fazer as pazes. O Novo Testamento vê a propiciação como ato de Deus, seja pelo oferecimento do Pai seja pelo oferecimento do Filho, o mais fácil ficou para o fim. “Propiciação” vem de “propiciar”, que significa tornar favorável. Esta doutrina mostra como é que Deus se torna favorável a nós. Como, de inimigos que somos, ele nos transforma em amigos. Não é por mérito algum que venhamos a apresentar. Na realidade, nem mesmo tomamos a iniciativa. Deus nos oferece a reconciliação e amizade por um gesto seu. É ele quem toma a iniciativa. Cabem aqui as palavras do Batista: “O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu” (Jo 3.27). Propiciação é um gesto de Deus em nos reconciliar com ele. Ele nos dá. Nós aceitamos.
O termo é enigmático, e muitos nunca ouviram falar dele, a não ser em algum versículo bíblico em que a palavra aparece. E talvez não tenham notado-o. A melhor explicação para o termo é que nos diz que “propiciação significa a remoção da ira mediante a oferta de algum presente”. Era um ato presente na política internacional no Oriente antigo, quando um rei de alguma nação, para se manter seguro, enviava presente a outro rei, de uma nação mais forte. Era um gesto destinado a cultivar boas relações.
O verbo hebraico que traz a idéia de propiciação é kipper, com a idéia de fazer amizade, de juntar partes opostas e até mesmo em conflito. No Novo Testamento, a idéia mais próxima é “reconciliação”. A idéia do Novo Testamento se entende bem em 2Coríntios 5.21. O sentido do texto é que Deus ofereceu Cristo como presente ao mundo para fazer as pazes com o mundo. É um conceito que nos parece estranho, mas mostra que, no Novo Testamento, JEOVA, O Deus de Israel toma a iniciativa, em Jesus, de propor as pazes ao homem.
ALGUMAS OBJEÇÕES - Como “propiciar” tem a idéia de fazer as pazes, de aceitar um presente para fazer amizade, muita gente se escandaliza. Parece que está se subornando Deus. Mas, como veremos, é ele quem a oferece e não quem a recebe. Outros alegam que a ira de Deus é superdimensionada neste aspecto. Mas a Bíblia fala de um Deus que se ira e que sente indignação: Salmo 7.11-12. É verdade que Deus é tardio em irar-se (Ne 9.17), mas é certo que se ira. A Bíblia mostra que nele misericórdia e ira se completam: Números 14.18.
A propiciação surge exatamente aqui: como temperar ira e misericórdia? Em vez de objeção, a ira de Deus torna necessária a propiciação. Esta ira divina não é um descontrole emocional, mas é parte integrante da moralidade de Deus. Se ele não se indignasse contra o erro e contra o pecado, não seria Absolutamente Santo. Exatamente por ser santo Deus sente ira contra o pecado. Exatamente por ser santo é que tem misericórdia. Aqui surge a propiciação.
O PONTO CENTRAL DA PROPICIAÇÃO - O ponto central da propiciação é este: como remover a ira de Deus? No Antigo Testamento a resposta é clara: a ira não se remove. Ela se desvia. Veja-se o Salmo 78.38. O pecado tem um preço (Ez 18.20 e Rm 6.23). O pecado é tão sério aos olhos de Deus que exige a morte do pecador. A única maneira de se aniquilar o peso do pecado é com a morte. Deus instituiu o sacrifício no culto do Antigo Testamento para ensinar este aspecto. É a morte, através do derramamento do sangue, que faz a propiciação ou expiação dos nossos pecados. A resposta ao ponto central é esta: o sangue faz a expiação (que significa de dois fazer um ou reaproximar dois que estão distantes e em inimizade), idéia parecida com a propiciação. Esta última avança por incluir a idéia de um presente para de dois fazer um.
A IDÉIA NO TABERNÁCULO - O tabernáculo foi o templo móvel de Israel, construído durante a peregrinação pelo deserto. Era um lugar provisório, morada de Deus, lugar de encontro pessoal com Deus (Êx 33.7-11). O tabernáculo tinha o lugar santo, onde ficava o povo, e o santíssimo ou santo dos santos, onde o sumo sacerdote entrava uma vez por ano, para fazer a expiação do pecado do povo. No santíssimo ficava a arca da aliança. O nome da tampa da arca era kaporeth, que vem de um verbo da família kpr, que significa “propiciar”. Veja-se Êxodo 25.17-22. Como disse Hoof: “aí o mais perfeito ato de expiação era realizado uma vez por ano pelo sumo sacerdote” (O Pentateuco, p. 145). Devemos ter isto em mente: o lugar mais importante e solene do tabernáculo era onde acontecia a propiciação. Sangue se oferecia a Deus para sua ira se afastar do povo. O sangue era derramado exatamente sobre a tampa da arca, chamada “propiciatório”. “Propiciação” e libertação do poder do pecado se juntam desde cedo, na revelação bíblica. Se a Bíblia não se detém em explicitar a doutrina, a figura está bem presente em suas páginas.
Neste sentido, o propiciatório simbolizava a cruz de Cristo, onde se efetuou o perdão dos pecados, mas com uma diferença: a obra de Cristo não tem prazo de validade. O perdão alcançado no tabernáculo e mais tarde no templo tinha um ano de duração. A cruz é o propiciatório do Novo Testamento, mas com um perdão eterno, sem necessidade de repetição (Hb 9.11-14). A cruz resolveu o problema do pecado para sempre. Cristo é o Cordeiro que remove o pecado do mundo (Jo 1.36). A propiciação, no Antigo Testamento, era um símbolo da obra perfeita de Cristo, em remover nossos pecados e nos reconciliar com Deus (2Co 5.18-19).
Mais uma questão, que não é curiosidade. O dia em que o sumo sacerdote entrava no santíssimo (yom kippur, o dia do perdão), “em tempos posteriores era essa também a única ocasião em que o nome de Deus, portador de sua promessa de ajuda e aliança, era perceptivelmente proferido” (Sacrifício e Culto no Israel do Antigo Testamento, p. 102). O nome sagrado de Deus, que não se pronunciava mais nos tempos de Jesus, era a mais exata expressão do caráter do Pai. Pois bem, o caráter do Pai está ligado à propiciação. É seu caráter que nos garante o perdão dos pecados. Não é o nosso caráter, mas o dele.
A OBRA DE CRISTO - A propiciação é um ato de misericórdia de Deus, quando esta triunfa sobre sua ira. A oração do publicano, na parábola contada por Jesus ilustra isto. Em Lucas 18.13, o que o publicano pede, nas palavras de Jesus, é que Deus seja “propício” a ele, que Deus seja ou faça sua propiciação. Ele precisava de perdão. O fariseu achava que tinha aceitação divina porque era bom. Deus lhe devia isto. O publicano sabia que não era bom, nada tinha de bom, e que só podia alcançar o favor de Deus como um presente divino. Ele devia a Deus. Jesus sintetiza bem sua missão, nesta parábola. Ele, Jesus, é o presente divino para reaproximar as duas partes distanciadas, a divina e a humana. Ao mesmo tempo mostra dois tipos de pessoas. Uma que julga que não precisa de perdão, que Deus deve estar muito contente com ela. Outra que reconhece a necessidade de perdão e sabe que não merece e pede um favor a Deus.
Segundo Hebreus 2.17, Jesus fez a propiciação pelos nossos pecados. Ele mesmo presenteou Deus Pai com sua vida para nos conseguir o perdão. Nesta declaração, a oferta é do Filho. Não há choque com outros textos que dizem que o Pai ofereceu o Filho. É que a epístola aos Hebreus põe o Filho como agente no processo da salvação, em sua linha de argumentação. E lembremos que a Trindade não entra em conflito, mas age sempre em sintonia.
Em 1João 2.2, Jesus é a propiciação pelos nossos pecados. É por isto que ele nos defende, como Advogado, junto ao Pai (1Jo 2.1) Tínhamos, como o publicano da parábola, um débito que não podíamos pagar. Jesus o pagou e por isto pode nos defender. Não devemos mais nada a Deus porque Jesus pagou o preço dos nossos pecados com a sua própria vida. Não se paga um débito duas vezes. Vale a pena a citação do Novo Dicionário da Bíblia neste texto: "Tudo isso nos ajuda a perceber que, aqui, a ‘propiciação’ deve ser tomada em seu sentido usual nas Escrituras.
O escritor sagrado estava descrevendo a atividade de Jesus em prol dos homens, como a única coisa que pode fazer desviar a ira divina” (p. 1331). O texto de 1João 4.10 avança significativamente nesta idéia. O Filho, Jesus, é o presente dado pelo próprio Pai. Difere do pensamento do autor de Hebreus. Mas o que realmente interessa é que não é um presente nosso. Não havia nada que pudéssemos oferecer. Então, o Pai ofereceu o Filho. Aqui, não é o Filho que se autodoa ou autopresenteia ao Pai, mas é o Pai quem oferece o Filho ao mundo. A morte de Cristo é um gesto de amor do Pai para conosco. Esta idéia é confirmada por Romanos 3.25-26, onde se vê que é Deus Pai quem oferece o Filho como propiciação. Quem crê na eficácia do sangue de Cristo (não de animais, mas do sangue de Cristo) é justificado. Conforme o versículo 25, Deus deixa de lado os delitos que o pecador outrora cometeu. Um rei guerreava contra outro por ambição ou porque se sentira ofendido. O pecado ofende a Deus e o levaria a nos guerrear, mas em Cristo ele oferece à humanidade a mão estendida para fazer as pazes. O Novo Testamento vê a propiciação como ato de Deus, seja pelo oferecimento do Pai seja pelo oferecimento do Filho, o mais fácil ficou para o fim. “Propiciação” vem de “propiciar”, que significa tornar favorável. Esta doutrina mostra como é que Deus se torna favorável a nós. Como, de inimigos que somos, ele nos transforma em amigos. Não é por mérito algum que venhamos a apresentar. Na realidade, nem mesmo tomamos a iniciativa. Deus nos oferece a reconciliação e amizade por um gesto seu. É ele quem toma a iniciativa. Cabem aqui as palavras do Batista: “O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu” (Jo 3.27). Propiciação é um gesto de Deus em nos reconciliar com ele. Ele nos dá. Nós aceitamos.
SANTO = SEPARADO
SER SANTO = SER SEPARADO
“ser santo” significa “ser separado”. Todos os cristãos devem ser santos…
Quando se fala em “ser santo” pensa quase sempre em pessoa exemplar, perfeita, sem pecados, sem vícios, sem defeitos, gente de oração…
Ser santo significa “ser separado…” Muita gente pensa que santo é aquele que se separa do “mundo”, vai para um convento, separa-se dos outros, etc…Mas não foi isso que Eu quis dizer.
Ser santo significa ser separado ……………… de si mesmo…Com esta muitos não esperavam. “Separar-se de si mesmo…”.
Mas antes de morrer, porque aí já não temos possibilidade de escolher…Separar-se de si mesmo, neste mundo…Vou dizer por minhas palavras…
Cada um pode ser santo se separar-se de si mesmo, isto é, do seu egoísmo, da sua soberba, da sua vaidade, dos seus caprichos, dos seus instintos, dos seus desejos, da sua avareza, da sua luxúria, da sua ira, da sua gula, da sua inveja, da sua preguiça…
É aquilo que Jesus dizia no Evangelho: “Renunciar a si mesmo…”. Esvaziar-se de si mesmo, para se encher de Deus e dos outros, para aceitar Deus e a Sua vontade na nossa vida e aceitar os outros.
Quem está cheio de si mesmo, não tem lugar para Deus, nem para os outros.
Quem se esvazia de si mesmo, não peca, por isso, é santo…
A nossa falta de fé em Deus e as lutas com os outros, rivalidades, invejas, vinganças, separações, ódios, desgostos existem porque não somos santos, isto é, não estamos separados de nós, na humildade, na mansidão, na generosidade.
Esse está cheio de si mesmo, em vez de estar vazio de si mesmo…
Quem está cheio de si mesmo, torna-se um deus para si mesmo…
E, desse modo, Deus e a Sua vontade não contam, nem os outros de quem devia ser irmão e se torna um lobo…
Ser santo é ser separado de si. E ser separado de si mesmo é ser humilde, simples, manso, bom, doce, generoso, servidor.
“ser santo” significa “ser separado”. Todos os cristãos devem ser santos…
Quando se fala em “ser santo” pensa quase sempre em pessoa exemplar, perfeita, sem pecados, sem vícios, sem defeitos, gente de oração…
Ser santo significa “ser separado…” Muita gente pensa que santo é aquele que se separa do “mundo”, vai para um convento, separa-se dos outros, etc…Mas não foi isso que Eu quis dizer.
Ser santo significa ser separado ……………… de si mesmo…Com esta muitos não esperavam. “Separar-se de si mesmo…”.
Mas antes de morrer, porque aí já não temos possibilidade de escolher…Separar-se de si mesmo, neste mundo…Vou dizer por minhas palavras…
Cada um pode ser santo se separar-se de si mesmo, isto é, do seu egoísmo, da sua soberba, da sua vaidade, dos seus caprichos, dos seus instintos, dos seus desejos, da sua avareza, da sua luxúria, da sua ira, da sua gula, da sua inveja, da sua preguiça…
É aquilo que Jesus dizia no Evangelho: “Renunciar a si mesmo…”. Esvaziar-se de si mesmo, para se encher de Deus e dos outros, para aceitar Deus e a Sua vontade na nossa vida e aceitar os outros.
Quem está cheio de si mesmo, não tem lugar para Deus, nem para os outros.
Quem se esvazia de si mesmo, não peca, por isso, é santo…
A nossa falta de fé em Deus e as lutas com os outros, rivalidades, invejas, vinganças, separações, ódios, desgostos existem porque não somos santos, isto é, não estamos separados de nós, na humildade, na mansidão, na generosidade.
Esse está cheio de si mesmo, em vez de estar vazio de si mesmo…
Quem está cheio de si mesmo, torna-se um deus para si mesmo…
E, desse modo, Deus e a Sua vontade não contam, nem os outros de quem devia ser irmão e se torna um lobo…
Ser santo é ser separado de si. E ser separado de si mesmo é ser humilde, simples, manso, bom, doce, generoso, servidor.
O MISSIONARIO
O Missionário
1. Oferece e recebe dons
"De graça recebeste, de graça dai."
(Mt 10,8)
O missionário é sempre visto como alguém que oferece um "presente": o dom que recebeu de Deus e que quer oferecer aos outros. Há uma força que empurra o evangelizador a comunicar essa dádiva, é um poder inerente ao mesmo dom que deve ser transmitido e nunca guardado. A felicidade de ter recebido o dom de Deus é tão grande que impulsiona o missionário a querer partilhar essa alegria.
A impetuosidade da comunicação, todavia, torna, muitas vezes, o dom inútil e sem sentido. Antes de tudo, o dom está num invólucro que não é nada atraente: é uma palavra dita a partir da cultura do missionário, que é incompreensível ao receptor. O presente pode ser bom, mas a roupagem não convida a recebê-lo. É um invólucro cinzento, quando seria melhor que fosse todo colorido. É um presente mal amarrado. Às vezes, em vez de ser levado com ternura, é jogado como lixo no mundo dos outros. O dever de entregar o dom não implica que este seja oferecido como algo incompreensível e mal apresentado. Até pode chegar a ser uma ameaça à identidade do outro quando, por exemplo, é imposto e forçado.
Além disso, exatamente por ser um dom, pode ser rejeitado ou não aceito. Ninguém pode aceitar um dom que não é esperado ou que não se apresente como tal.
O oferecimento do dom está inserido num sistema de trocas, em que há uma necessidade de oferecer, aceitar e retribuir. É um sistema que está na raiz e na visão do mundo de muitos povos. É um sistema que define o princípio da relação com os outros. Quando se fala em "sistema", entende-se uma estrutura que está na raiz do processo cultural e da construção da identidade. Junto com a dádiva há toda uma força inerente a ela, quase uma obrigação de ser oferecida, mas também aceita e retribuída. Isto vale também para o missionário. O dom que carrega consigo deve ser trocado por outro dom que é oferecido pelos diferentes povos e culturas. O Espírito de Deus já colocou as sementes que enriquecem a experiência da oferenda do missionário. Ele mesmo é obrigado a receber o dom do outro que é dádiva e força vital para a alteridade.
O missionário não é sempre aquele que é obrigado a oferecer, ele também deve receber o dom e permitir ao outro de retribuir. A mensagem evangélica, neste sistema de trocas, é oferenda que vem, antes de tudo, de Deus, oferecida na gratuidade e que, no entanto, exige a colaboração e a liberdade da aceitação e da retribuição. O Dom maior que nos foi dado é o próprio Filho de Deus, que não é propriedade exclusiva do missionário, mas que já está presente como Palavra eterna, no seio dos povos e culturas.
2. E alguém que se sente vulnerável
Uma pessoa é vulnerável quando se percebe limitada e não auto-suficiente. A experiência de que não somos os donos de nossa vida, a percepção de que todos temos que morrer e a experiência do sofrimento e da incapacidade de vencê-la, nos tornam pessoas extremamente vulneráveis. Estamos quase paralisados, diante dos grandes problemas humanos aos quais não sabemos dar uma resposta. Em vez de afirmar-se o poder da força, é a situação da fraqueza e da limitação que nos acompanha sempre. A mensagem do Evangelho atua como força também na fraqueza da limitação do missionário.
A raiz da vulnerabilidade do missionário é a mesma cruz de Jesus, sinal de fraqueza e de derrota. O paradoxo cristão é exatamente o fato de que Jesus Cristo não nos salva necessariamente do sofrimento, mas no sofrimento e através dele. O nosso Deus não quis salvar-nos através de uma ação poderosa, intervindo na realidade e eliminando a fraqueza humana. Ele nos salva, participando intensamente do nosso real sofrimento e fazendo sua morada no nosso meio. É somente no processo de fazer-se fraqueza e carregando sobre si nossas limitações, exceto o pecado, que ele pode redimir nossa humanidade. É o paradoxo da cruz como vulnerabilidade extrema e como única realidade capaz de trazer a redenção. Sem essa vulnerabilidade não há salvação, sem essa identificação completa não há redenção. Jesus fez-se vulnerável e fraco, assumindo sobre si a miséria humana até as últimas conseqüências.
Também o apóstolo São Paulo, um grande missionário, confiou, no começo de sua atividade, em sua capacidade de argumentação para convencer os outros a serem cristãos. Em Atenas, no areópago, citou os filósofos e as tradições gregas para interessar seu auditório. Na conclusão de seu discurso, quase todos tinham se afastado, dizendo que iriam escutá-lo uma outra vez (Atos, 17,16-34). Decepcionado com o resultado, são Paulo se transferiu para a cidade de Corinto e, ali, fez uma revisão do seu caminho missionário. Como conseqüência, adotou uma outra postura que procurasse fundamentar sua pregação mais na proximidade de Deus, na semente da Palavra e na fraqueza da cruz (1 Cor. 2,1-5), do que em sua argumentação humana e em seu prestígio. Somente confiando na vulnerabilidade da cruz é que foi possível, para são Paulo, centrar mais sua vida na iniciativa de Deus.
Para o missionário, a experiência da própria fraqueza e da própria limitação é a porta de entrada para confiar na misericórdia de Deus e para ser misericordioso com os outros. Somente quem passou através de um intenso sofrimento e fracasso, descobrindo a bondade e a ternura de Deus que salva, pode aproximar-se dos outros com um coração terno e bondoso. Somente quem se percebe vulnerável e limitado pode aproximar-se misericordiosamente dos outros e centrar sua vida no protagonismo de Deus... Desta maneira, é o próprio Deus que toma a iniciativa e leva a termo a tarefa missionária. É o próprio Deus que salva através de sua cruz e ressurreição.
3. Como peregrino
Toda a história do povo de Israel é marcada pelo ato de caminhar: Abraão deve deixar sua própria terra; o povo escravo no Egito caminha por quarenta anos através do deserto; o próprio Yahweh é percebido como uma presença íntima e móvel. Mais tarde, as celebrações rituais retomam o tema do êxodo transformando-o em peregrinação.
No Novo Testamento, Jesus é o peregrino que não somente participa das peregrinações ao templo, mas que faz de toda sua vida uma longa peregrinação para Jerusalém, onde será preso e crucificado. Aos discípulos é pedido que percorram o mesmo caminho até o sofrimento e a morte. A experiência da morte e da ressurreição de Jesus converterá os peregrinos galileus amedrontados (Mc 14,27) em verdadeiros missionários que vão para toda parte (Mc 16,20). E é através do seguimento de Jesus que os missionários vão se fazendo discípulos do mestre.
Ser um peregrino é desinstalar-se continuamente; é fazer da vida um contínuo deslocar-se de um lugar para o outro, solidarizando-se com os desenraizados e migrantes; é tornar-se um companheiro na busca de uma morada. Mas, ainda mais, o missionário aponta para uma outra morada "porque não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da cidade que está para vir" (Heb 13, 14).
O tema do enraizamento e do desenraizamento e, ao mesmo tempo, a vida presente e aquela que deve vir representam uma tensão que gera a missão. O caminho missionário acontece propriamente nessa tensão constante entre o presente e o futuro.
A espiritualidade do missionário é caracterizada por uma peregrinação em busca de uma morada definitiva. É um deslocar-se constantemente para buscar o definitivo, superando o provisório, o efêmero, o limitado e o temporário. A história da missão e dos missionários representa uma epopéia de andanças e de movimento de pés que se deslocam entre trilhas e veredas, em florestas, em morros enlameados e sobre asfaltos esburacados. É um caminho de encontros com culturas e religiões, as mais diversas possíveis, apontando para além dos horizontes. "Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura." (Mc 16,15). Representa sempre uma busca e traduz-se em encontros: o encontro de Deus e o encontro dos irmãos.
O peregrino não leva nada consigo, somente o essencial. Uma sacola, uma roupa e um bastão são o suficiente. Há peregrinos espalhados no mundo todo que dependem do apoio e da bondade das pessoas. Há peregrinos urbanos que, nas grandes megalópoles, se solidarizam com os despossuídos e põem suas energias a serviço da vida. É preciso andar sem parar nunca, deslocar-se à procura do absoluto e na realização do projeto de Deus.
4. É um estrangeiro
"Era estrangeiro e me receberam". (Mt 25, 35)
O hóspede pode ser também um estrangeiro, de outro povo e de outra cultura ou de outro país. O missionário é sempre estrangeiro. Não consegue falar a língua com o mesmo sotaque ou usando as mesmas expressões. Nunca se sentirá completamente em sua própria casa. Além disso, é quase impossível situar-se completamente numa outra cultura. Depois de um tempo, a realidade de ser estrangeiro é de tal maneira permanente que ele se torna estrangeiro também em sua própria cultura. Quando volta para a terra de origem, o missionário sente-se estrangeiro também em sua própria casa. Mudou ele e mudou também sua cultura de origem. Vive como estranho permanentemente. Torna-se um itinerante e um caminheiro. Desloca-se como peregrino de um lugar para outro, testemunhando a provisoriedade e a contínua busca de uma morada definitiva. Insegurança e provisoriedade fundamentam-se na promessa de Deus que nunca vai abandonar o missionário.
Esta situação pode significar também que não existem mais muros e barreiras que dividem. Não há uma única cultura como não há uma cultura que melhor expresse as potencialidades do Evangelho. O estrangeiro, justamente por não ser parte integrante de um grupo, pode contribuir para que o outro se compreenda em sua real dimensão, como um espelho que reflete o rosto do outro e lhe permite contemplar-se na sua real dimensão.
Jesus é o típico estrangeiro. Mesmo sendo Deus, não reivindicou sua semelhança com o Pai como algo que devia ser retido, mas esvaziou-se a si mesmo, tornando-se servidor, assumindo a condição de escravo e fazendo-se em tudo como nós (Fil.2,6-7). A condição de escravo é muito parecida com a condição do estrangeiro, porque este confia na iniciativa e indulgência de quem hospeda, esperando que lhe sejam definidas a identidade e as funções. Jesus nunca teve uma casa própria, apesar de ter tido uma pequena definição de status: era filho de um carpinteiro, profissão que ele mesmo exercia. . Quando um escriba quis segui-lo, ele deixou claro o ritmo de seu estilo de vida: "As raposas têm suas tocas e os pássaros seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde pousar a cabeça”. (mat. 8.20)
5. O Evangelista Mateus “ O Missionario”
Avisão de Mateus sobre a missão é caracterizada pelo "grande envio" relatado no final de seu evangelho (Mt 28,16-20). "Os onze discípulos voltaram à Galiléia...Quando o viram prostraram-se; mas alguns tiveram dúvida. Jesus se aproximou deles e disse: 'Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos".
O primeiro evangelho é essencialmente um texto missionário. Mateus escreve não tanto para contar a vida de Jesus, mas para apresentar um itinerário para uma comunidade em crise e para aprofundar seu chamado à missão. A comunidade de Mateus, uma comunidade proveniente do judaísmo situada num ambiente de pagãos, está passando por momentos de crises de identidade: o que vai acontecer no futuro? A comunidade pode continuar no judaísmo? Jesus é mais que um profeta? Alguns membros dão ênfase à lei e outros ao Espírito. Quem está certo? Mateus acha que todos têm uma certa verdade e falhas. Desta maneira, ele prepara o caminho para a reconciliação, o perdão, o amor mútuo na comunidade. E parece que todas essas tensões podem ser superadas, se todas as forças pudessem ser dirigidas para a missão no meio dos pagãos.
Mateus afirma claramente que a identidade da comunidade é "a comunidade em missão". Afirma isso quando escreve que todo o caminho de Jesus se endereçava aos judeus e aos pagãos e termina com o grande envio final.
Há três verbos no "grande envio" que destacam o caminho da missão. A expressão "fazer discípulos" é a mais central. O "fazer discípulos" é a expressão chave para o caminho da missão. A expressão "fazer discípulos" aparece somente quatro vezes no Novo Testamento: três vezes em Mateus (13,52; 27,57; 28,19) e uma vez nos Atos (14,21). Para Mateus, o termo "discípulo" não se refere somente aos doze apóstolos (como aparece em Marcos e Lucas). Discípulo é o protótipo da Igreja e inclui, também, todos os "discípulos". "Fazer discípulos" significa convidar outros a serem o que eles mesmos são: os que esperam o Reino de Deus (5,20) e são o sal e a luz do mundo (5,13).
Para Mateus, o que se aplica a Jesus diz-se também em relação aos discípulos. Em Mt 10,24, "O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor. Para o discípulo basta ser como o seu mestre, e para o servo, ser como o seu senhor", no sofrimento e na autoridade missionária. Há, porém, diferenças entre um e outros. Ele, Jesus, é o Senhor. Os discípulos não são perfeitos e experimentam a fraqueza e as contradições. Muitas vezes são classificados como pessoas de "pouca fé", cheios de dúvidas e receios. A fragilidade e a vulnerabilidade dos discípulos é experimentada em sua própria identidade: eles estão vivendo à beira da hostilidade dos judeus e pagãos. Assim aconteceu com Jesus. A missão nem sempre é vivida na certeza; muitas vezes se abastece da fraqueza. Há sempre uma tensão dialética entre adoração e dúvida, entre fé e medo.
Mateus é o único evangelista que põe na boca de Jesus o termo "Igreja" (Ekklesia) (Mt 16,18 e 18,17). Não se trata aqui da conotação de uma instituição ou denominação. Quando Mateus identifica a missão como "fazer discípulos", não está pensando em aumentar o número de adeptos de uma ou outra denominação. Ser discípulo não significa necessariamente ser parte de uma denominação local ou ajuntar membros para o próprio grupo. A perspectiva de Mateus é de um discipulado exigente. Existe tensão, em Mateus, entre o termo Igreja e o fato de fazer discípulos. De outro lado, os dois termos não estão separados. Em si, todos os membros da Igreja deveriam ser verdadeiros discípulos, mas nem sempre é assim. Há joio no meio do trigo, como há peixes maus na rede com bons peixes.
1. Oferece e recebe dons
"De graça recebeste, de graça dai."
(Mt 10,8)
O missionário é sempre visto como alguém que oferece um "presente": o dom que recebeu de Deus e que quer oferecer aos outros. Há uma força que empurra o evangelizador a comunicar essa dádiva, é um poder inerente ao mesmo dom que deve ser transmitido e nunca guardado. A felicidade de ter recebido o dom de Deus é tão grande que impulsiona o missionário a querer partilhar essa alegria.
A impetuosidade da comunicação, todavia, torna, muitas vezes, o dom inútil e sem sentido. Antes de tudo, o dom está num invólucro que não é nada atraente: é uma palavra dita a partir da cultura do missionário, que é incompreensível ao receptor. O presente pode ser bom, mas a roupagem não convida a recebê-lo. É um invólucro cinzento, quando seria melhor que fosse todo colorido. É um presente mal amarrado. Às vezes, em vez de ser levado com ternura, é jogado como lixo no mundo dos outros. O dever de entregar o dom não implica que este seja oferecido como algo incompreensível e mal apresentado. Até pode chegar a ser uma ameaça à identidade do outro quando, por exemplo, é imposto e forçado.
Além disso, exatamente por ser um dom, pode ser rejeitado ou não aceito. Ninguém pode aceitar um dom que não é esperado ou que não se apresente como tal.
O oferecimento do dom está inserido num sistema de trocas, em que há uma necessidade de oferecer, aceitar e retribuir. É um sistema que está na raiz e na visão do mundo de muitos povos. É um sistema que define o princípio da relação com os outros. Quando se fala em "sistema", entende-se uma estrutura que está na raiz do processo cultural e da construção da identidade. Junto com a dádiva há toda uma força inerente a ela, quase uma obrigação de ser oferecida, mas também aceita e retribuída. Isto vale também para o missionário. O dom que carrega consigo deve ser trocado por outro dom que é oferecido pelos diferentes povos e culturas. O Espírito de Deus já colocou as sementes que enriquecem a experiência da oferenda do missionário. Ele mesmo é obrigado a receber o dom do outro que é dádiva e força vital para a alteridade.
O missionário não é sempre aquele que é obrigado a oferecer, ele também deve receber o dom e permitir ao outro de retribuir. A mensagem evangélica, neste sistema de trocas, é oferenda que vem, antes de tudo, de Deus, oferecida na gratuidade e que, no entanto, exige a colaboração e a liberdade da aceitação e da retribuição. O Dom maior que nos foi dado é o próprio Filho de Deus, que não é propriedade exclusiva do missionário, mas que já está presente como Palavra eterna, no seio dos povos e culturas.
2. E alguém que se sente vulnerável
Uma pessoa é vulnerável quando se percebe limitada e não auto-suficiente. A experiência de que não somos os donos de nossa vida, a percepção de que todos temos que morrer e a experiência do sofrimento e da incapacidade de vencê-la, nos tornam pessoas extremamente vulneráveis. Estamos quase paralisados, diante dos grandes problemas humanos aos quais não sabemos dar uma resposta. Em vez de afirmar-se o poder da força, é a situação da fraqueza e da limitação que nos acompanha sempre. A mensagem do Evangelho atua como força também na fraqueza da limitação do missionário.
A raiz da vulnerabilidade do missionário é a mesma cruz de Jesus, sinal de fraqueza e de derrota. O paradoxo cristão é exatamente o fato de que Jesus Cristo não nos salva necessariamente do sofrimento, mas no sofrimento e através dele. O nosso Deus não quis salvar-nos através de uma ação poderosa, intervindo na realidade e eliminando a fraqueza humana. Ele nos salva, participando intensamente do nosso real sofrimento e fazendo sua morada no nosso meio. É somente no processo de fazer-se fraqueza e carregando sobre si nossas limitações, exceto o pecado, que ele pode redimir nossa humanidade. É o paradoxo da cruz como vulnerabilidade extrema e como única realidade capaz de trazer a redenção. Sem essa vulnerabilidade não há salvação, sem essa identificação completa não há redenção. Jesus fez-se vulnerável e fraco, assumindo sobre si a miséria humana até as últimas conseqüências.
Também o apóstolo São Paulo, um grande missionário, confiou, no começo de sua atividade, em sua capacidade de argumentação para convencer os outros a serem cristãos. Em Atenas, no areópago, citou os filósofos e as tradições gregas para interessar seu auditório. Na conclusão de seu discurso, quase todos tinham se afastado, dizendo que iriam escutá-lo uma outra vez (Atos, 17,16-34). Decepcionado com o resultado, são Paulo se transferiu para a cidade de Corinto e, ali, fez uma revisão do seu caminho missionário. Como conseqüência, adotou uma outra postura que procurasse fundamentar sua pregação mais na proximidade de Deus, na semente da Palavra e na fraqueza da cruz (1 Cor. 2,1-5), do que em sua argumentação humana e em seu prestígio. Somente confiando na vulnerabilidade da cruz é que foi possível, para são Paulo, centrar mais sua vida na iniciativa de Deus.
Para o missionário, a experiência da própria fraqueza e da própria limitação é a porta de entrada para confiar na misericórdia de Deus e para ser misericordioso com os outros. Somente quem passou através de um intenso sofrimento e fracasso, descobrindo a bondade e a ternura de Deus que salva, pode aproximar-se dos outros com um coração terno e bondoso. Somente quem se percebe vulnerável e limitado pode aproximar-se misericordiosamente dos outros e centrar sua vida no protagonismo de Deus... Desta maneira, é o próprio Deus que toma a iniciativa e leva a termo a tarefa missionária. É o próprio Deus que salva através de sua cruz e ressurreição.
3. Como peregrino
Toda a história do povo de Israel é marcada pelo ato de caminhar: Abraão deve deixar sua própria terra; o povo escravo no Egito caminha por quarenta anos através do deserto; o próprio Yahweh é percebido como uma presença íntima e móvel. Mais tarde, as celebrações rituais retomam o tema do êxodo transformando-o em peregrinação.
No Novo Testamento, Jesus é o peregrino que não somente participa das peregrinações ao templo, mas que faz de toda sua vida uma longa peregrinação para Jerusalém, onde será preso e crucificado. Aos discípulos é pedido que percorram o mesmo caminho até o sofrimento e a morte. A experiência da morte e da ressurreição de Jesus converterá os peregrinos galileus amedrontados (Mc 14,27) em verdadeiros missionários que vão para toda parte (Mc 16,20). E é através do seguimento de Jesus que os missionários vão se fazendo discípulos do mestre.
Ser um peregrino é desinstalar-se continuamente; é fazer da vida um contínuo deslocar-se de um lugar para o outro, solidarizando-se com os desenraizados e migrantes; é tornar-se um companheiro na busca de uma morada. Mas, ainda mais, o missionário aponta para uma outra morada "porque não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da cidade que está para vir" (Heb 13, 14).
O tema do enraizamento e do desenraizamento e, ao mesmo tempo, a vida presente e aquela que deve vir representam uma tensão que gera a missão. O caminho missionário acontece propriamente nessa tensão constante entre o presente e o futuro.
A espiritualidade do missionário é caracterizada por uma peregrinação em busca de uma morada definitiva. É um deslocar-se constantemente para buscar o definitivo, superando o provisório, o efêmero, o limitado e o temporário. A história da missão e dos missionários representa uma epopéia de andanças e de movimento de pés que se deslocam entre trilhas e veredas, em florestas, em morros enlameados e sobre asfaltos esburacados. É um caminho de encontros com culturas e religiões, as mais diversas possíveis, apontando para além dos horizontes. "Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura." (Mc 16,15). Representa sempre uma busca e traduz-se em encontros: o encontro de Deus e o encontro dos irmãos.
O peregrino não leva nada consigo, somente o essencial. Uma sacola, uma roupa e um bastão são o suficiente. Há peregrinos espalhados no mundo todo que dependem do apoio e da bondade das pessoas. Há peregrinos urbanos que, nas grandes megalópoles, se solidarizam com os despossuídos e põem suas energias a serviço da vida. É preciso andar sem parar nunca, deslocar-se à procura do absoluto e na realização do projeto de Deus.
4. É um estrangeiro
"Era estrangeiro e me receberam". (Mt 25, 35)
O hóspede pode ser também um estrangeiro, de outro povo e de outra cultura ou de outro país. O missionário é sempre estrangeiro. Não consegue falar a língua com o mesmo sotaque ou usando as mesmas expressões. Nunca se sentirá completamente em sua própria casa. Além disso, é quase impossível situar-se completamente numa outra cultura. Depois de um tempo, a realidade de ser estrangeiro é de tal maneira permanente que ele se torna estrangeiro também em sua própria cultura. Quando volta para a terra de origem, o missionário sente-se estrangeiro também em sua própria casa. Mudou ele e mudou também sua cultura de origem. Vive como estranho permanentemente. Torna-se um itinerante e um caminheiro. Desloca-se como peregrino de um lugar para outro, testemunhando a provisoriedade e a contínua busca de uma morada definitiva. Insegurança e provisoriedade fundamentam-se na promessa de Deus que nunca vai abandonar o missionário.
Esta situação pode significar também que não existem mais muros e barreiras que dividem. Não há uma única cultura como não há uma cultura que melhor expresse as potencialidades do Evangelho. O estrangeiro, justamente por não ser parte integrante de um grupo, pode contribuir para que o outro se compreenda em sua real dimensão, como um espelho que reflete o rosto do outro e lhe permite contemplar-se na sua real dimensão.
Jesus é o típico estrangeiro. Mesmo sendo Deus, não reivindicou sua semelhança com o Pai como algo que devia ser retido, mas esvaziou-se a si mesmo, tornando-se servidor, assumindo a condição de escravo e fazendo-se em tudo como nós (Fil.2,6-7). A condição de escravo é muito parecida com a condição do estrangeiro, porque este confia na iniciativa e indulgência de quem hospeda, esperando que lhe sejam definidas a identidade e as funções. Jesus nunca teve uma casa própria, apesar de ter tido uma pequena definição de status: era filho de um carpinteiro, profissão que ele mesmo exercia. . Quando um escriba quis segui-lo, ele deixou claro o ritmo de seu estilo de vida: "As raposas têm suas tocas e os pássaros seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde pousar a cabeça”. (mat. 8.20)
5. O Evangelista Mateus “ O Missionario”
Avisão de Mateus sobre a missão é caracterizada pelo "grande envio" relatado no final de seu evangelho (Mt 28,16-20). "Os onze discípulos voltaram à Galiléia...Quando o viram prostraram-se; mas alguns tiveram dúvida. Jesus se aproximou deles e disse: 'Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos".
O primeiro evangelho é essencialmente um texto missionário. Mateus escreve não tanto para contar a vida de Jesus, mas para apresentar um itinerário para uma comunidade em crise e para aprofundar seu chamado à missão. A comunidade de Mateus, uma comunidade proveniente do judaísmo situada num ambiente de pagãos, está passando por momentos de crises de identidade: o que vai acontecer no futuro? A comunidade pode continuar no judaísmo? Jesus é mais que um profeta? Alguns membros dão ênfase à lei e outros ao Espírito. Quem está certo? Mateus acha que todos têm uma certa verdade e falhas. Desta maneira, ele prepara o caminho para a reconciliação, o perdão, o amor mútuo na comunidade. E parece que todas essas tensões podem ser superadas, se todas as forças pudessem ser dirigidas para a missão no meio dos pagãos.
Mateus afirma claramente que a identidade da comunidade é "a comunidade em missão". Afirma isso quando escreve que todo o caminho de Jesus se endereçava aos judeus e aos pagãos e termina com o grande envio final.
Há três verbos no "grande envio" que destacam o caminho da missão. A expressão "fazer discípulos" é a mais central. O "fazer discípulos" é a expressão chave para o caminho da missão. A expressão "fazer discípulos" aparece somente quatro vezes no Novo Testamento: três vezes em Mateus (13,52; 27,57; 28,19) e uma vez nos Atos (14,21). Para Mateus, o termo "discípulo" não se refere somente aos doze apóstolos (como aparece em Marcos e Lucas). Discípulo é o protótipo da Igreja e inclui, também, todos os "discípulos". "Fazer discípulos" significa convidar outros a serem o que eles mesmos são: os que esperam o Reino de Deus (5,20) e são o sal e a luz do mundo (5,13).
Para Mateus, o que se aplica a Jesus diz-se também em relação aos discípulos. Em Mt 10,24, "O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor. Para o discípulo basta ser como o seu mestre, e para o servo, ser como o seu senhor", no sofrimento e na autoridade missionária. Há, porém, diferenças entre um e outros. Ele, Jesus, é o Senhor. Os discípulos não são perfeitos e experimentam a fraqueza e as contradições. Muitas vezes são classificados como pessoas de "pouca fé", cheios de dúvidas e receios. A fragilidade e a vulnerabilidade dos discípulos é experimentada em sua própria identidade: eles estão vivendo à beira da hostilidade dos judeus e pagãos. Assim aconteceu com Jesus. A missão nem sempre é vivida na certeza; muitas vezes se abastece da fraqueza. Há sempre uma tensão dialética entre adoração e dúvida, entre fé e medo.
Mateus é o único evangelista que põe na boca de Jesus o termo "Igreja" (Ekklesia) (Mt 16,18 e 18,17). Não se trata aqui da conotação de uma instituição ou denominação. Quando Mateus identifica a missão como "fazer discípulos", não está pensando em aumentar o número de adeptos de uma ou outra denominação. Ser discípulo não significa necessariamente ser parte de uma denominação local ou ajuntar membros para o próprio grupo. A perspectiva de Mateus é de um discipulado exigente. Existe tensão, em Mateus, entre o termo Igreja e o fato de fazer discípulos. De outro lado, os dois termos não estão separados. Em si, todos os membros da Igreja deveriam ser verdadeiros discípulos, mas nem sempre é assim. Há joio no meio do trigo, como há peixes maus na rede com bons peixes.
HISTORIA DA ASSEMBLEIA DE DEUS NO BRASIL
História
A Assembleia de Deus chegou ao Brasil por intermédio dos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, que aportaram em Belém, capital do Estado do Pará, em 19 de novembro de 1910, vindos dos Estados Unidos. A princípio, frequentaram a Igreja Batista, denominação a que ambos pertenciam nos Estados Unidos. Eles traziam a doutrina do batismo no Espírito Santo, com a glossolalia — o falar em línguas espirituais (estranhas) — como a evidência inicial da manifestação para os adeptos do movimento. A manifestação do fenômeno já vinha ocorrendo em várias reuniões de oração nos Estados Unidos (e também de forma isolada em outros países), principalmente naquelas que eram conduzidas por Charles Fox Parham, mas teve seu apogeu inicial através de um de seus principais discípulos, um pastor leigo negro, chamado William Joseph Seymour, na rua Azusa, Los Angeles, em 1906.
A nova doutrina trouxe muita divergência. Enquanto um grupo aderiu, outro rejeitou. Assim, em duas assembleias distintas, conforme relatam as atas das sessões, os adeptos do pentecostalismo foram desligados e, em 18 de junho de 1911, juntamente com os missionários estrangeiros, fundaram uma nova igreja e adotaram o nome de Missão de Fé Apostólica, que já era empregado pelo movimento de Los Angeles, mas sem qualquer vínculo administrativo com William Joseph Seymour. A partir de então, passaram a reunir-se na casa de Celina de Albuquerque. Mais tarde, em 18 de janeiro de 1918 a nova igreja, por sugestão de Gunnar Vingren, passou a chamar-se Assembleia de Deus, em virtude da fundação das Assembleias de Deus nos Estados Unidos, em 1914, em Hot Springs, Arkansas, mas, outra vez, sem qualquer ligação institucional entre ambas as igrejas.
A Assembleia de Deus no Brasil expandiu-se pelo estado do Pará, alcançaram o Amazonas, propagou-se para o Nordeste, principalmente entre as camadas mais pobres da população. Chegaram ao Sudeste pelos idos de 1922, através de famílias de retirantes do Pará, que se portavam como instrumentos voluntários para estabelecer a nova denominação aonde quer que chegassem. Nesse ano, a igreja teve início no Rio de Janeiro, no bairro de São Cristóvão, e ganhou impulso com a transferência de Gunnar Vingren, de Belém, em 1924, para a então capital da República. Um fato que marcou a igreja naquele período foi a conversão de Paulo Leivas Macalão, filho de um general, através de um folheto evangelístico. Foi ele o precursor do assim conhecido Ministério de Madureira, como veremos adiante.
A influência sueca teve forte peso na formação assembleiana brasileira, em razão da nacionalidade de seus fundadores, e graças à igreja pentecostal escandinava, principalmente a Igreja Filadélfia de Estocolmo, que, além de ter assumido nos anos seguintes o sustento de Gunnar Vingren e Daniel Berg, enviou outros missionários para dar suporte aos novos membros em seu papel de fazer crescer a nova Igreja. Desde 1930, quando se realizou um concílio da igreja na cidade de Natal, a Assembleia de Deus no Brasil passou a ter autonomia interna, sendo administradas exclusivamente pelos pastores residentes no Brasil, sem contudo perder os vínculos fraternais com a igreja na Suécia. A partir de 1936 a igreja passou a ter maior colaboração das Assembleias de Deus dos Estados Unidos através dos missionários enviados ao país, os quais se envolveram de forma mais direta com a estruturação teológica da denominação.
Organização denominacional
As Assembleias de Deus brasileiras estão organizadas em forma de árvore, onde cada Ministério é constituído pela igreja-sede com suas respectivas filiadas, congregações e pontos de pregação (subcongregações). O sistema de administração é um misto entre o sistema episcopal e o sistema congregacional, onde os assuntos são previamente tratados pelo ministério, com forte influência da liderança pastoral, e depois são levados às assembleias para serem referendados apenas. No Ministério Madureira (mencionado mais abaixo). Os pastores das Assembleias de Deus podem estar ligados ou não às convenções estaduais, e estas se vinculam a uma convenção de âmbito nacional. Particularmente na América do Sul, hoje existe muitas Assembleias de Deus autônomas e independentes.
Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil
A Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) possui sede no Rio de Janeiro, esta se considera o tronco da denominação por ser a entidade que desde o princípio deu corpo organizacional à igreja. A CGADB hoje conta com cerca de 3,5 milhões de membros em todo o Brasil (dados do Iser) e centenas de missionários espalhados pelo mundo.
A CGADB é proprietária da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), com sede no Rio de Janeiro, que atende parcela significativa da comunidade evangélica brasileira. À CGADB também pertence a Faculdade Evangélica de Tecnologia, Ciências e Biotecnologia (Faecad), sediada no mesmo Estado, e que oferece os seguintes curso em nível superior: Administração, Comércio Exterior, Marketing, Teologia e Direito.
A CGADB é constituída por várias convenções estaduais e regionais, além de vários ministérios. Alguns ministérios cresceram de tal forma que tornaram-se denominações de facto, com suas congregações sobrepondo as áreas de abrangência das convenções regionais. Dentre os grandes ministérios se destaca o Ministério do Belém, que possui cerca de 2.200 igrejas concentradas no centro-sul e com sede no bairro do Belém na capital paulista, sendo atualmente (2008) presidida pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, que sucedeu o pastor Cícero Canuto de Lima, que também preside a CGADB.
Na área política, alguns deputados federais são membros das Assembleias de Deus e a representam institucionalmente junto aos poderes públicos nos assuntos de interesse da denominação, supervisionados pelo Conselho Político Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, com sede em Brasília, DF, que coordena todo o processo político da CGADB. Além disso, há também deputados estaduais e até prefeitos e vereadores, todos sob a chancela de igrejas ligadas à CGADB.
Desde a década de 1980, por razões administrativas, notadamente em virtude do falecimento do pastor Paulo Leivas Macalão e de sua esposa, missionária Zélia, a Assembleia de Deus brasileira tem passado por várias cisões que deram origem a diversas convenções e ministérios, com administração autônoma, em várias regiões do País. O mais expressivo dos ministérios independentes é o Ministério de Madureira, cuja igreja já existia desde os idos de 1930, fundada pelo já mencionado pastor Paulo Leivas Macalão e que, em 1958, serviu de base para a estruturação nacional do Ministério por ele presidido, até a sua morte, no final de 1982.
Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil – Ministério de Madureira
À medida que os anos se passavam, os pastores do Ministério de Madureira (assim conhecido por ter sua sede no bairro de mesmo nome, na cidade do Rio de Janeiro), sob a presidência vitalícia do pastor (hoje bispo) Manuel Ferreira, se distanciavam das normas administrativas da CGADB, segundo a liderança da época, que, por isso mesmo, realizou uma assembleia geral extraordinária em Salvador, Bahia, em setembro de 1989, onde esses pastores foram suspensos até que aceitassem as decisões aprovadas. Por não concordarem com as exigências que lhes eram feitas foram excluídos pela Diretoria da CGADB. Desta forma tornou-se completamente independente da CGADB a Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil — Ministério de Madureira (Conamad), que tem no campo do Brás, na capital paulista, a sua maior expressividade, que, por anos, foi presidido pelo pastor Lupércio Vergniano e hoje está sob as ordens de Samuel Cássio Ferreira, bacharel em Direito. Possuia em 2005 cerca de 2 milhões de membros no Brasil e exterior.
Portugal
Em Portugal a história dessa denominação pentecostal é contada a partir do ano de 1913. Foram os missionários portugueses emigrados do Brasil José Plácido da Costa (1913) e José de Matos Caravela (1921) que deram início às ações que resultaram na fundação das Assembleias de Deus em Portugal.
A primeira igreja Assembleia de Deus em Portugal foi fundada na cidade de Portimão, em 1924, pelo missionário José de Matos, também responsável pela fundação das igrejas do Algarve, de Santarém e de Alcanhões. A partir desse ano, com a ajuda de missionários suecos e o esforço de obreiros portugueses, foram estabelecidas diversas outras igrejas em várias cidades, como: Porto, em 1930, com a intervenção do missionário sueco Daniel Berg; Évora, em 1932, pela ação da evangelista Isabel Guerreiro; e Lisboa, em 1934, com a ajuda do missionário Jack Hardstedt.
Da ação missionária das Assembleias de Deus em Portugal deu-se a expansão da igreja aos territórios ultramarinos, a exemplo de: Angola, Guiné, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Timor-Leste; os quais posteriormente tornaram-se nações independentes, mas mantiveram suas igrejas Assembleias de Deus nacionais em fraterna relação com as coirmãs portuguesas.
Em Portugal o ramo principal é a Convenção das Assembleias de Deus em Portugal, com quase 400 igrejas, a maior denominação protestante no país.
Além da CADP, existem outras denominações organizadas em Portugal, originárias de imigrantes brasileiros ou cismas da CADP, que adotam o mesmo nome, como a Assembleia de Deus Missionária; Assembleia de Deus Universal; Convenção Nacional das Assembleias de Deus (60 igrejas com 450 Congregações); Igreja de Nova Vida – Assembleia de Deus da Amadora;Centro Pentecostal Europeu das Assembleias de Deus(CPEAD 75 locais de culto); Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério da Missão
Estados Unidos
Nos Estados Unidos surgiram várias congregações pentecostais independentes, desde o avivamento da rua Azuza, em 1906. Buscando unidade, comunhão entre si, trabalho missionário e organização legal, alguns líderes convocaram uma Convenção em Hot Springs, Arkansas, em 1914. Como resultado, houve a adesão de quase 500 ministros e a criação do General Council of the Assemblies of God (Concílio Geral das Assembleias de Deus), mais tarde sediado em Springfield, Missouri. Essa igreja possui, hoje, cerca de 2 milhões de membros e envia missionários a vários países do mundo. John Ashcroft, procurador-geral dos EUA durante o primeiro mandato de George W. Bush, é membro dessa denominação.
As Assemblies of God apresentam algumas diferenças de sua coirmã brasileira: no tocante à administração, não existe o sistema de ministérios; cada igreja local é autônoma e não é subordinada a nenhuma outra, mas voluntariamente agrupam-se em presbitérios regionais, onde há igualdade entre todos e contam com a participação de representantes leigos. A congregação local entrevista e contrata o pastor, que é examinado e ordenado pelo Concílio Geral. Referente aos costumes, as Assemblies of God são integradas à sociedade americana, permitindo, por exemplo, que suas mulheres cortem o cabelo e usem calças compridas.
Reino Unido e Irlanda
Organizada em 1924, a Assemblies of God in Great Britain and Ireland cresceu sob a influência do pastor Donald Gee. Reúne hoje cerca de 600 igrejas locais e possui uma rede de missionários atuando em vários continentes. Uma característica da AGGBI é a prática da Santa Ceia semanalmente.
Existem ainda Assembleias de Deus composta por imigrantes caribenhos e brasileiros, cujas igrejas não possuem relações com a AGGBI.
Doutrina
Ver artigo principal: Declaração de Verdades Fundamentais das Assembléias de Deus
Santa Ceia.
De acordo com o credo das Assembleias de Deus, entre as verdades fundamentais da denominação, estão a crença:
Num só Deus eterno subsistente em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo;
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, considerada a única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão;
Na concepção virginal de Jesus Cristo, na sua morte vicária e expiatória, ressurreição corporal e ascensão para o céu;
No pecado que distancia o homem de Deus, condição que só pode ser restaurada através do arrependimento e da fé em Jesus Cristo.
Arrebatamento dos membros da Igreja para a Nova Jerusalém em breve com a volta de Cristo.
Na necessidade de um novo nascimento pela fé em Jesus Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus para que o homem se torne digno do Reino dos Céus;
A denominação pratica o batismo em águas por imersão do corpo inteiro, uma só vez, em adultos, em nome da Trindade; a celebração, sistemática e continuada, da Santa Ceia; e o recebimento do batismo no Espírito Santo, geralmente, com a evidência inicial do falar em outras línguas, seguido de outros dons do Espírito Santo.
A exemplo da maioria dos cristãos, os assembleianos aguardam a segunda vinda premilenial de Cristo em duas fases distintas: a primeira, invisível ao mundo, para arrebatar a Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação; e a segunda, visível e corporal com a Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo por mil anos, sendo portanto dispensacionalista.
Ainda, nesse corolário de fé, os assembleianos esperam comparecer perante o Tribunal de Cristo, para receber a recompensa dos seus feitos em favor da causa do Cristianismo, seguindo-se uma vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tormento para os infiéis.
Os assembleianos, em regra, são contra o aborto voluntário e o divórcio.
Liturgia
Pregação.
Os cultos das Assembleias de Deus se caracterizam por orações, cânticos (hinos evangélicos clássicos e contemporâneos), testemunhos e pregações, onde muitas vezes ocorrem manifestações dos dons espirituais, como, por exemplo, profecias e línguas espirituais (estranhas).
Possui dias e horários específicos para cultos, sendo o principal deles no domingo por volta das 18/19 horas, e o de ensinamento bíblico (a Escola Bíblica Dominical, com divisão de classes por idade) por volta das 9 horas.
Os cultos têm duração média de 2 horas, sendo divididos em:
Oração inicial – Normalmente um pastor ou outro obreiro faz uma oração a Deus.
Cânticos iniciais – Utilizando-se a Harpa Cristã (um livreto de Hinos Evangélicos Clássicos), canta-se em média 3 hinos e em alguns ministérios, hinos congregacionais.
Leitura bíblica (ou palavra introdutória) – Neste momento a leitura do trecho bíblico e inspirada pelo Espírito Santo, no qual o culto será direcionado como um todo com fulcro nesse trecho.
Oportunidades de cânticos por grupos de jovens, crianças, senhoras, adolescentes, corais, grupos e ministérios de louvor.
Oportunidades de testemunhos por membros – Momento no qual os membros contam o que Deus mudou em suas vidas e vem fazendo, atualmente, por eles.
Pregação – na qual um pastor, um membro da igreja local, ou um pregador ou pastor convidado fará a pregação (sermão) explicando a passagem bíblica.
Apelo – Convite aos que não são evangélicos a aceitarem a Jesus como único e suficiente Salvador.
Cântico de encerramento e/ou avisos sobre as próximas reuniões.
Oração final.
Bênção apostólica (somente dado pelo pastor, presbítero ou evangelista: “A graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o amor de Deus, o nosso Eterno Pai, a comunhão, as doces e eternas consolações do Espírito Santo sejam sobre nós e sobre todo o povo de Deus, desde agora e para sempre. Amém”.
Obs: Nem todas as Assembleias de Deus seguem esta liturgia.
Críticas
A Assembleia de Deus sofre críticas, tanto por parte de outras denominações religiosas quanto por setores não-religiosos da sociedade civil. O rápido crescimento da igreja tem estimulado diversas produções intelectuais de pesquisadores dos fenômenos sociológicos e antropológicos contemporâneos; ao mesmo tempo que já gerou apaixonadas controvérsias e discussões, no campo puramente ideológico.
O fenômeno do rápido e atípico enriquecimento econômico dos líderes de algumas das principais denominações é alvo de críticas da sociedade, uma vez que a prática religiosa é isenta de taxação fiscal no Brasil e facilmente pode-se transformar em instrumento de crimes fiscais como evasão de divisas e lavagem de dinheiro, entre muitos outros crimes. Além do mais, há a grande crítica pelo grande apelo por doações, muitas vezes desproporcionais ao intuito propalado pela igreja.
É importante observar que a Assembleia de Deus, como representante do pentecostalismo clássico, é adversa aos métodos de arrecadação de ofertas feitas por neopentecostais, portanto enfatiza as bênçãos espirituais e, mormente, a transformação do caráter humano, pelo poder da Palavra de Deus – Jesus Cristo.
Novos conceitos a respeito de usos e costumes
Assembleia de Deus do Gama Oeste (Brasília), um exemplo de uma AD ‘renovada’.
Muitas igrejas Assembleias de Deus vêm experimentando, recentemente, grandes mudanças comportamentais concernente a usos e costumes.
Em particular, algumas dessas igrejas já não mais impõem o uso de determinadas peças do vestuário feminino, consentindo que as mulheres usem calças compridas, decotes mais alongados ou mangas mais curtas, permitindo ainda o uso de jóias, tais como brincos, cordões, maquiagens e coloração dos cabelos, desde que mantido um razoável padrão de pudor. Praia, cinema e teatro já não são, terminantemente, proibidos, desde que se desfrute com moderação, conscientes que de tudo Deus pedirá contas.
Quanto aos homens, diminuem as restrições ao uso de barba ou cabelos mais alongados, bem como bermudas e lazer, substituindo-se o rigor da proibição pela recomendação de uma boa imagem pessoal ante a sociedade, nos padrões exigidos por algumas organizações corporativas.
De igual modo, tendem a desaparecer do cenário assembleiano as folclóricas proibições ao uso da televisão e do rádio, enquanto algumas igrejas passam a orientar seus adeptos a lerem bons livros e fazerem uso adequado da internet, numa clara demonstração de que as posições radicais do passado estão sendo substituídas pelo respeito à liberdade de seus membros usufruírem dos benefícios que a tecnologia põe à disposição da sociedade contemporânea.
Vale lembrar que a maioria das Igrejas Assembléias de Deus ainda possuem costumes, e algumas ainda chegam a ser de maneira radical.
Produção teológica
A Assembleia de Deus, com o crescimento de seus seminários e faculdades teológicas, começa a criar uma tradição acadêmica, que ainda em relação ao tamanho da denominação, não gerou um impacto visível.
Os pastores assembleianos, que se voltam para estudos acadêmicos, são próximos da literatura batista, além de serem críticos do neopentecostalismo.
Referências
1. ↑ IBGE-Censo 2000
2. ↑ Maiores igrejas do mundo
3. ↑ A Declaração de Verdades Fundamentais da Assembléia de Deus (em inglês)
A Assembleia de Deus chegou ao Brasil por intermédio dos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, que aportaram em Belém, capital do Estado do Pará, em 19 de novembro de 1910, vindos dos Estados Unidos. A princípio, frequentaram a Igreja Batista, denominação a que ambos pertenciam nos Estados Unidos. Eles traziam a doutrina do batismo no Espírito Santo, com a glossolalia — o falar em línguas espirituais (estranhas) — como a evidência inicial da manifestação para os adeptos do movimento. A manifestação do fenômeno já vinha ocorrendo em várias reuniões de oração nos Estados Unidos (e também de forma isolada em outros países), principalmente naquelas que eram conduzidas por Charles Fox Parham, mas teve seu apogeu inicial através de um de seus principais discípulos, um pastor leigo negro, chamado William Joseph Seymour, na rua Azusa, Los Angeles, em 1906.
A nova doutrina trouxe muita divergência. Enquanto um grupo aderiu, outro rejeitou. Assim, em duas assembleias distintas, conforme relatam as atas das sessões, os adeptos do pentecostalismo foram desligados e, em 18 de junho de 1911, juntamente com os missionários estrangeiros, fundaram uma nova igreja e adotaram o nome de Missão de Fé Apostólica, que já era empregado pelo movimento de Los Angeles, mas sem qualquer vínculo administrativo com William Joseph Seymour. A partir de então, passaram a reunir-se na casa de Celina de Albuquerque. Mais tarde, em 18 de janeiro de 1918 a nova igreja, por sugestão de Gunnar Vingren, passou a chamar-se Assembleia de Deus, em virtude da fundação das Assembleias de Deus nos Estados Unidos, em 1914, em Hot Springs, Arkansas, mas, outra vez, sem qualquer ligação institucional entre ambas as igrejas.
A Assembleia de Deus no Brasil expandiu-se pelo estado do Pará, alcançaram o Amazonas, propagou-se para o Nordeste, principalmente entre as camadas mais pobres da população. Chegaram ao Sudeste pelos idos de 1922, através de famílias de retirantes do Pará, que se portavam como instrumentos voluntários para estabelecer a nova denominação aonde quer que chegassem. Nesse ano, a igreja teve início no Rio de Janeiro, no bairro de São Cristóvão, e ganhou impulso com a transferência de Gunnar Vingren, de Belém, em 1924, para a então capital da República. Um fato que marcou a igreja naquele período foi a conversão de Paulo Leivas Macalão, filho de um general, através de um folheto evangelístico. Foi ele o precursor do assim conhecido Ministério de Madureira, como veremos adiante.
A influência sueca teve forte peso na formação assembleiana brasileira, em razão da nacionalidade de seus fundadores, e graças à igreja pentecostal escandinava, principalmente a Igreja Filadélfia de Estocolmo, que, além de ter assumido nos anos seguintes o sustento de Gunnar Vingren e Daniel Berg, enviou outros missionários para dar suporte aos novos membros em seu papel de fazer crescer a nova Igreja. Desde 1930, quando se realizou um concílio da igreja na cidade de Natal, a Assembleia de Deus no Brasil passou a ter autonomia interna, sendo administradas exclusivamente pelos pastores residentes no Brasil, sem contudo perder os vínculos fraternais com a igreja na Suécia. A partir de 1936 a igreja passou a ter maior colaboração das Assembleias de Deus dos Estados Unidos através dos missionários enviados ao país, os quais se envolveram de forma mais direta com a estruturação teológica da denominação.
Organização denominacional
As Assembleias de Deus brasileiras estão organizadas em forma de árvore, onde cada Ministério é constituído pela igreja-sede com suas respectivas filiadas, congregações e pontos de pregação (subcongregações). O sistema de administração é um misto entre o sistema episcopal e o sistema congregacional, onde os assuntos são previamente tratados pelo ministério, com forte influência da liderança pastoral, e depois são levados às assembleias para serem referendados apenas. No Ministério Madureira (mencionado mais abaixo). Os pastores das Assembleias de Deus podem estar ligados ou não às convenções estaduais, e estas se vinculam a uma convenção de âmbito nacional. Particularmente na América do Sul, hoje existe muitas Assembleias de Deus autônomas e independentes.
Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil
A Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) possui sede no Rio de Janeiro, esta se considera o tronco da denominação por ser a entidade que desde o princípio deu corpo organizacional à igreja. A CGADB hoje conta com cerca de 3,5 milhões de membros em todo o Brasil (dados do Iser) e centenas de missionários espalhados pelo mundo.
A CGADB é proprietária da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), com sede no Rio de Janeiro, que atende parcela significativa da comunidade evangélica brasileira. À CGADB também pertence a Faculdade Evangélica de Tecnologia, Ciências e Biotecnologia (Faecad), sediada no mesmo Estado, e que oferece os seguintes curso em nível superior: Administração, Comércio Exterior, Marketing, Teologia e Direito.
A CGADB é constituída por várias convenções estaduais e regionais, além de vários ministérios. Alguns ministérios cresceram de tal forma que tornaram-se denominações de facto, com suas congregações sobrepondo as áreas de abrangência das convenções regionais. Dentre os grandes ministérios se destaca o Ministério do Belém, que possui cerca de 2.200 igrejas concentradas no centro-sul e com sede no bairro do Belém na capital paulista, sendo atualmente (2008) presidida pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, que sucedeu o pastor Cícero Canuto de Lima, que também preside a CGADB.
Na área política, alguns deputados federais são membros das Assembleias de Deus e a representam institucionalmente junto aos poderes públicos nos assuntos de interesse da denominação, supervisionados pelo Conselho Político Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, com sede em Brasília, DF, que coordena todo o processo político da CGADB. Além disso, há também deputados estaduais e até prefeitos e vereadores, todos sob a chancela de igrejas ligadas à CGADB.
Desde a década de 1980, por razões administrativas, notadamente em virtude do falecimento do pastor Paulo Leivas Macalão e de sua esposa, missionária Zélia, a Assembleia de Deus brasileira tem passado por várias cisões que deram origem a diversas convenções e ministérios, com administração autônoma, em várias regiões do País. O mais expressivo dos ministérios independentes é o Ministério de Madureira, cuja igreja já existia desde os idos de 1930, fundada pelo já mencionado pastor Paulo Leivas Macalão e que, em 1958, serviu de base para a estruturação nacional do Ministério por ele presidido, até a sua morte, no final de 1982.
Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil – Ministério de Madureira
À medida que os anos se passavam, os pastores do Ministério de Madureira (assim conhecido por ter sua sede no bairro de mesmo nome, na cidade do Rio de Janeiro), sob a presidência vitalícia do pastor (hoje bispo) Manuel Ferreira, se distanciavam das normas administrativas da CGADB, segundo a liderança da época, que, por isso mesmo, realizou uma assembleia geral extraordinária em Salvador, Bahia, em setembro de 1989, onde esses pastores foram suspensos até que aceitassem as decisões aprovadas. Por não concordarem com as exigências que lhes eram feitas foram excluídos pela Diretoria da CGADB. Desta forma tornou-se completamente independente da CGADB a Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil — Ministério de Madureira (Conamad), que tem no campo do Brás, na capital paulista, a sua maior expressividade, que, por anos, foi presidido pelo pastor Lupércio Vergniano e hoje está sob as ordens de Samuel Cássio Ferreira, bacharel em Direito. Possuia em 2005 cerca de 2 milhões de membros no Brasil e exterior.
Portugal
Em Portugal a história dessa denominação pentecostal é contada a partir do ano de 1913. Foram os missionários portugueses emigrados do Brasil José Plácido da Costa (1913) e José de Matos Caravela (1921) que deram início às ações que resultaram na fundação das Assembleias de Deus em Portugal.
A primeira igreja Assembleia de Deus em Portugal foi fundada na cidade de Portimão, em 1924, pelo missionário José de Matos, também responsável pela fundação das igrejas do Algarve, de Santarém e de Alcanhões. A partir desse ano, com a ajuda de missionários suecos e o esforço de obreiros portugueses, foram estabelecidas diversas outras igrejas em várias cidades, como: Porto, em 1930, com a intervenção do missionário sueco Daniel Berg; Évora, em 1932, pela ação da evangelista Isabel Guerreiro; e Lisboa, em 1934, com a ajuda do missionário Jack Hardstedt.
Da ação missionária das Assembleias de Deus em Portugal deu-se a expansão da igreja aos territórios ultramarinos, a exemplo de: Angola, Guiné, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Timor-Leste; os quais posteriormente tornaram-se nações independentes, mas mantiveram suas igrejas Assembleias de Deus nacionais em fraterna relação com as coirmãs portuguesas.
Em Portugal o ramo principal é a Convenção das Assembleias de Deus em Portugal, com quase 400 igrejas, a maior denominação protestante no país.
Além da CADP, existem outras denominações organizadas em Portugal, originárias de imigrantes brasileiros ou cismas da CADP, que adotam o mesmo nome, como a Assembleia de Deus Missionária; Assembleia de Deus Universal; Convenção Nacional das Assembleias de Deus (60 igrejas com 450 Congregações); Igreja de Nova Vida – Assembleia de Deus da Amadora;Centro Pentecostal Europeu das Assembleias de Deus(CPEAD 75 locais de culto); Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério da Missão
Estados Unidos
Nos Estados Unidos surgiram várias congregações pentecostais independentes, desde o avivamento da rua Azuza, em 1906. Buscando unidade, comunhão entre si, trabalho missionário e organização legal, alguns líderes convocaram uma Convenção em Hot Springs, Arkansas, em 1914. Como resultado, houve a adesão de quase 500 ministros e a criação do General Council of the Assemblies of God (Concílio Geral das Assembleias de Deus), mais tarde sediado em Springfield, Missouri. Essa igreja possui, hoje, cerca de 2 milhões de membros e envia missionários a vários países do mundo. John Ashcroft, procurador-geral dos EUA durante o primeiro mandato de George W. Bush, é membro dessa denominação.
As Assemblies of God apresentam algumas diferenças de sua coirmã brasileira: no tocante à administração, não existe o sistema de ministérios; cada igreja local é autônoma e não é subordinada a nenhuma outra, mas voluntariamente agrupam-se em presbitérios regionais, onde há igualdade entre todos e contam com a participação de representantes leigos. A congregação local entrevista e contrata o pastor, que é examinado e ordenado pelo Concílio Geral. Referente aos costumes, as Assemblies of God são integradas à sociedade americana, permitindo, por exemplo, que suas mulheres cortem o cabelo e usem calças compridas.
Reino Unido e Irlanda
Organizada em 1924, a Assemblies of God in Great Britain and Ireland cresceu sob a influência do pastor Donald Gee. Reúne hoje cerca de 600 igrejas locais e possui uma rede de missionários atuando em vários continentes. Uma característica da AGGBI é a prática da Santa Ceia semanalmente.
Existem ainda Assembleias de Deus composta por imigrantes caribenhos e brasileiros, cujas igrejas não possuem relações com a AGGBI.
Doutrina
Ver artigo principal: Declaração de Verdades Fundamentais das Assembléias de Deus
Santa Ceia.
De acordo com o credo das Assembleias de Deus, entre as verdades fundamentais da denominação, estão a crença:
Num só Deus eterno subsistente em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo;
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, considerada a única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão;
Na concepção virginal de Jesus Cristo, na sua morte vicária e expiatória, ressurreição corporal e ascensão para o céu;
No pecado que distancia o homem de Deus, condição que só pode ser restaurada através do arrependimento e da fé em Jesus Cristo.
Arrebatamento dos membros da Igreja para a Nova Jerusalém em breve com a volta de Cristo.
Na necessidade de um novo nascimento pela fé em Jesus Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus para que o homem se torne digno do Reino dos Céus;
A denominação pratica o batismo em águas por imersão do corpo inteiro, uma só vez, em adultos, em nome da Trindade; a celebração, sistemática e continuada, da Santa Ceia; e o recebimento do batismo no Espírito Santo, geralmente, com a evidência inicial do falar em outras línguas, seguido de outros dons do Espírito Santo.
A exemplo da maioria dos cristãos, os assembleianos aguardam a segunda vinda premilenial de Cristo em duas fases distintas: a primeira, invisível ao mundo, para arrebatar a Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação; e a segunda, visível e corporal com a Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo por mil anos, sendo portanto dispensacionalista.
Ainda, nesse corolário de fé, os assembleianos esperam comparecer perante o Tribunal de Cristo, para receber a recompensa dos seus feitos em favor da causa do Cristianismo, seguindo-se uma vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tormento para os infiéis.
Os assembleianos, em regra, são contra o aborto voluntário e o divórcio.
Liturgia
Pregação.
Os cultos das Assembleias de Deus se caracterizam por orações, cânticos (hinos evangélicos clássicos e contemporâneos), testemunhos e pregações, onde muitas vezes ocorrem manifestações dos dons espirituais, como, por exemplo, profecias e línguas espirituais (estranhas).
Possui dias e horários específicos para cultos, sendo o principal deles no domingo por volta das 18/19 horas, e o de ensinamento bíblico (a Escola Bíblica Dominical, com divisão de classes por idade) por volta das 9 horas.
Os cultos têm duração média de 2 horas, sendo divididos em:
Oração inicial – Normalmente um pastor ou outro obreiro faz uma oração a Deus.
Cânticos iniciais – Utilizando-se a Harpa Cristã (um livreto de Hinos Evangélicos Clássicos), canta-se em média 3 hinos e em alguns ministérios, hinos congregacionais.
Leitura bíblica (ou palavra introdutória) – Neste momento a leitura do trecho bíblico e inspirada pelo Espírito Santo, no qual o culto será direcionado como um todo com fulcro nesse trecho.
Oportunidades de cânticos por grupos de jovens, crianças, senhoras, adolescentes, corais, grupos e ministérios de louvor.
Oportunidades de testemunhos por membros – Momento no qual os membros contam o que Deus mudou em suas vidas e vem fazendo, atualmente, por eles.
Pregação – na qual um pastor, um membro da igreja local, ou um pregador ou pastor convidado fará a pregação (sermão) explicando a passagem bíblica.
Apelo – Convite aos que não são evangélicos a aceitarem a Jesus como único e suficiente Salvador.
Cântico de encerramento e/ou avisos sobre as próximas reuniões.
Oração final.
Bênção apostólica (somente dado pelo pastor, presbítero ou evangelista: “A graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o amor de Deus, o nosso Eterno Pai, a comunhão, as doces e eternas consolações do Espírito Santo sejam sobre nós e sobre todo o povo de Deus, desde agora e para sempre. Amém”.
Obs: Nem todas as Assembleias de Deus seguem esta liturgia.
Críticas
A Assembleia de Deus sofre críticas, tanto por parte de outras denominações religiosas quanto por setores não-religiosos da sociedade civil. O rápido crescimento da igreja tem estimulado diversas produções intelectuais de pesquisadores dos fenômenos sociológicos e antropológicos contemporâneos; ao mesmo tempo que já gerou apaixonadas controvérsias e discussões, no campo puramente ideológico.
O fenômeno do rápido e atípico enriquecimento econômico dos líderes de algumas das principais denominações é alvo de críticas da sociedade, uma vez que a prática religiosa é isenta de taxação fiscal no Brasil e facilmente pode-se transformar em instrumento de crimes fiscais como evasão de divisas e lavagem de dinheiro, entre muitos outros crimes. Além do mais, há a grande crítica pelo grande apelo por doações, muitas vezes desproporcionais ao intuito propalado pela igreja.
É importante observar que a Assembleia de Deus, como representante do pentecostalismo clássico, é adversa aos métodos de arrecadação de ofertas feitas por neopentecostais, portanto enfatiza as bênçãos espirituais e, mormente, a transformação do caráter humano, pelo poder da Palavra de Deus – Jesus Cristo.
Novos conceitos a respeito de usos e costumes
Assembleia de Deus do Gama Oeste (Brasília), um exemplo de uma AD ‘renovada’.
Muitas igrejas Assembleias de Deus vêm experimentando, recentemente, grandes mudanças comportamentais concernente a usos e costumes.
Em particular, algumas dessas igrejas já não mais impõem o uso de determinadas peças do vestuário feminino, consentindo que as mulheres usem calças compridas, decotes mais alongados ou mangas mais curtas, permitindo ainda o uso de jóias, tais como brincos, cordões, maquiagens e coloração dos cabelos, desde que mantido um razoável padrão de pudor. Praia, cinema e teatro já não são, terminantemente, proibidos, desde que se desfrute com moderação, conscientes que de tudo Deus pedirá contas.
Quanto aos homens, diminuem as restrições ao uso de barba ou cabelos mais alongados, bem como bermudas e lazer, substituindo-se o rigor da proibição pela recomendação de uma boa imagem pessoal ante a sociedade, nos padrões exigidos por algumas organizações corporativas.
De igual modo, tendem a desaparecer do cenário assembleiano as folclóricas proibições ao uso da televisão e do rádio, enquanto algumas igrejas passam a orientar seus adeptos a lerem bons livros e fazerem uso adequado da internet, numa clara demonstração de que as posições radicais do passado estão sendo substituídas pelo respeito à liberdade de seus membros usufruírem dos benefícios que a tecnologia põe à disposição da sociedade contemporânea.
Vale lembrar que a maioria das Igrejas Assembléias de Deus ainda possuem costumes, e algumas ainda chegam a ser de maneira radical.
Produção teológica
A Assembleia de Deus, com o crescimento de seus seminários e faculdades teológicas, começa a criar uma tradição acadêmica, que ainda em relação ao tamanho da denominação, não gerou um impacto visível.
Os pastores assembleianos, que se voltam para estudos acadêmicos, são próximos da literatura batista, além de serem críticos do neopentecostalismo.
Referências
1. ↑ IBGE-Censo 2000
2. ↑ Maiores igrejas do mundo
3. ↑ A Declaração de Verdades Fundamentais da Assembléia de Deus (em inglês)
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