ATUAÇÃO SOCIAL DA IGREJA
Gostaria dever as igrejas com mais presença no campo do social, porém, não podemos negar que a igreja protestante no Brasil tem uma grande dívida para com a sociedade. Temos no Brasil diversos grupos protestantes que são detentores de um alto poder econômico, todavia, muito pouco desses recursos são investidos em obras sociais de notoriedade. Isso acontece porque existe uma preocupação transparente entre a maioria das denominações e ministérios nesse pais, a qual se traduz numa competição entre as grandes igrejas evangélicas que buscam tão somente a glorificação dos seus próprios sistemas, por meio de construções exuberantes, a conquista do status político com a eleição de candidatos que possam arvorar a bandeira da denominação e também uma corrida desenfreada pela apropriação dos espaços midiáticos, isto é, a compra de estações de rádios, canais de televisão, poderosos sites na internet que sejam eficazes na promoção denominacional e também a própria imagem das lideranças principais. As vultuosas somas de capital investidas nessas áreas parece desvanecer as motivações para os investimentos na área social. Talvez, porque o trabalho social não proporcione tanto reconhecimento e a visibilidade que a maioria está procurando. Algumas grandes igrejas mantém alguns trabalhos medíocres que usam como pretexto para apresentar como justificativa de que realmente desenvolvem uma obra social. Na verdade o que existe mesmo é um discurso por demais hipócrita que exige que cada cristão pratique solidariedade para com os necessitados, quando muitos líderes vivem como verdadeiros "marajás do evangelho" agindo de uma maneira a demonstrar que não tem a mínima preocupação com as necessidades de quem quer que seja. A maioria das igrejas evangélicas não só têm uma ação social muito pálida, como também não ajudam algumas instituições para-eclesiásticas que atuam na área social, tais como hospitais, casas de recuperação de drogados, assistência a menores abandonados e assim por diante. A maioria dessas instituições sobrevivem mais de ofertas oriundas de das pessoas de uma forma geral do que de ajuda de igrejas. Apesar da abordagem negativa, não estou afirmando que não existam igrejas e pessoas no meio evangélico que não estejam preocupados com o social, o que estou dizendo é que tais ações estão longe de traduzir o potencial da igreja evangélica no Brasil para a obra social. As chamadas ONGS parecem ser muito mais eficazes do que a igreja evangélica no tocante a obra social. Houve épocas em que muitas lideranças negligenciavam a obra social porque achavam que o trabalho exclusivo da igreja era apenas cuidar das almas dos homens, pensavam que a única coisa que importava para as pessoas era "o pão espiritual" pois só desse pão deveria o homem viver. Por outro lado, na atualidade poucos ainda preservam essa mentalidade, teóricamente todos têm conhecimento da obrigação social da igreja, pois tal ensino é patente em toda a bíblia, a qual recomenda em diversas passagens sobre as atenções e cuidados para com os necessitados, todavia, as ambições pessoais têm mudado o foco da igreja, canalizando os seus esforços para outras prioridades.
A BASE BÍBLICA PARA A RESPONSABILIDADE SOCIAL
A partir do livro de Gênesis já encontramos algumas referências sobre a responsabilidade social. Ao criar a mulher Deus estabeleceu responsabilidades que homem e mulher teriam um para com o outro. E posteriormente quando Caim matou Abel, Deus veio a Caim e lhe perguntou: "Caim onde está o teu irmão ? Porém, Caim quis esquivar-se de sua responsabilidade, e por isso disse para Deus "Sou eu porventura o guardador de meu irmão?". Deus estava cobrando de Caim o bem estar de Abel, exatamente pelo fato de que ele era responsável pelo bem estar do irmão. A situação não mudou muito, tem muita gente se negando em cumprir a sua missão social, porém, Deus estará sempre a nos perguntar "Onde está o teu irmão? ou como está o teu irmão?. Ele espera da sua igreja uma resposta coerente com o Amor Dele que foi revelado na Cruz de Cristo. Sobre este aspecto quero compartilhar o belo texto de John Stott sobre responsabilidade social. Qual é, então, a base bíblica para responsabilidade social? Porque devem os cristãos se envolver? No final das contas, existem apenas duas atitudes que eles podem adotar com relação ao mundo. Uma é a fuga, outra o engajamento. "Fugir" significa voltar as costas ao mundo em rejeição, lavar as mãos das coisas do mundo (mesmo sabendo como Pôncios Pilatos , que nem assim desaparece a responsabilidade), e endurecer o coração aos agonizantes gritos de socorro. "Engajar-se", por outro lado, significa voltar o rosto para o mundo em compaixão, sujar as mãos, sofrer e gastar-se a serviço deste e sentir no fundo do ser o comovente e incontido amor de Deus. Entre nós, os evangélicos, são muitos que se comportam como fujões irresponsáveis. Viver dentro da igreja em comunhão uns com os outros é mais conveniente do que servir em um ambiente externo apático ou mesmo hostil. Naturalmente, vez por outra fazemos investidas no território inimigo através de campanhas evangelísticas (aliás, como evangélicos somos especialistas nisso). Depois, contudo, nos recolhemos de novo, e após cruzarmos o fosso do nosso castelo cristão (segurança da nossa própria comunhão evangélica), suspendemos a ponte levadiça e até fechamos os ouvidos aos gritos daqueles que esmurram nosso portão. Quanto às obras sociais, nossa tendência é dizer que isto é perda de tempo, já que o Senhor vai voltar logo. Afinal de contas, se a casa está em chamas, para que pendurar cortinas novas e dar uma ajeitada nos móveis? O que importa é salvar o que está perecendo. Dessa forma tentamos salvar nossa consciência com uma teologia espúria. Ao invés de tentarmos fugir à nossa responsabilidade social precisamos abrir os ouvidos e escutar a voz Daquele que conclama seu povo em todo tempo a sair (assim como Ele o fez) para o mundo perdido e solitário a fim de viver e amar, testificar e servir, como Ele e por Ele. Pois isto, sim, é "missão". Missão é a nossa resposta humana à divina comissão . É todo um estilo de vida cristão, que tanto inclui evangelismo quanto responsabilidade social, sob a convicção de que Cristo nos envia ao mundo assim como o Pai a Ele o enviou, e que é para o mundo, portanto, que devemos ir, para viver e trabalhar para Ele. Ainda assim, no entanto, resta-nos a questão: "Por que?" Por que deveria o cristão envolver-se com o mundo e seus problemas? Em resposta, proponho que examinemos as grandes doutrinas da bíblia, nas quais todos já cremos em teoria, mas tendemos a podar e retocar a fim de adaptá-las à nossa teologia escapista. Meu apelo é no sentido de que tenhamos coragem suficiente para conservar a integridade bíblica dessas doutrinas. Qualquer uma delas já bastaria para nos convencer da nossa responsabilidade social cristã; pois tais doutrinas juntas nos deixam sem qualquer desculpa.".
A responsabilidade não é meramente proteger vidas inocentes: também inclui fazer o bem positivo em prol dos outros. Segundo Jesus, e o ensino do Antigo Testamento também que o homem é responsável por amar seu próximo como a si mesmo. Jesus disse que o amor é a essência da lei moral (Mt 22.39). Até mesmo disse que a totalidade da moralidade do Antigo Testamento podia ser reduzida à regra Áurea (Mt 7.12). Exemplos específicos daquilo que significa amar os outros não faltam nem na vida nem nos ensinos de Cristo. As curas que Jesus fez dos mancos, dos leprosos e dos cegos, ilustram Sua própria solicitude, e sua história acerca do Bom Samaritano demonstra o amor que todos os homens devem ter com os outros (lc 10.30ss). As Epístolas de Novo Testamento abundam de exortações para os cristãos cuidarem uns dos outros e dos de fora. Paulo escreveu: "Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros" (Fp 2.4). Outra vez: "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprires a lei de Cristo" (Gl 6.2; 10). A Primeira Epístola de João é muito explícita no que diz respeito à responsabilidade do cristão no sentido de amar aos outros. (I Jo 3.17-18), como o é também a de Tiago (1.27). Em síntese, o homem é moralmente responsável pelos demais homens. Ele é o guardião do seu irmão.
PRECISAMOS DE UMA VISÃO HOLÍSTICA DO "SER"
A palavra hólos veio do grego e significa inteiro; composto. Segundo o dicionário, holismo é a tendência a sintetizar unidades em totalidades, que se supõe seja própria do universo. Sintetizar é reunir elementos em um todo; compor. Ter uma visão holística do homem é tratá-lo em todas as dimensões do seu "Ser", corpo, alma e espírito, pois, é dessa forma que a palavra do Senhor o trata. O que os cristãos as vezes não percebem, é o fato de que a responsabilidade de amar às outras pessoas se estende à totalidade do "Ser". Ou seja, o homem é mais do que uma alma destinada para outro mundo; é também um corpo que vive neste mundo. E como residente desta continuidade do tempo e do espaço o homem tem necessidades físicas e sociais que não podem ser isoladas das necessidades espirituais. Logo, a fim de amar ao homem conforme ele é - o homem total - é necessário ter um solicitude acerca das suas necessidades sociais, bem como das necessidades espirituais. Parte do descuido do "homem total" tem sua origem na ênfase platônica não-cristã sobre a dualidade do homem. Esta ênfase foi digerida pelos cristãos da Idade Média e tem sido transmitida para o presente. Em essência, argumenta que o homem é essencialmente um ser espiritual e que apenas tem conexão funcional com um corpo que, na melhor das hipóteses, é um impedimento, e na pior, um grande mal. A correção desse erro é achada no ensino bíblico acerca da unidade essencial do homem, e da qualidade boa da criação física e corpórea, feita por Deus (Gn 1.31). Tanto a unidade do homem quanto a bondade do corpo ficam evidentes na doutrina cristã da ressurreição, fato este que é repugnante à mente grega (At 17.32). A ressurreição do corpo não faria bom senso se os homens fossem completos sem seu corpo. Do outro lado, se o homem é essencial e permanentemente um corpo com alma, neste caso a negligência de qualquer aspecto é um erro sério. Se o homem deve ser amado como homem, deve-se amá-lo conforme ele é (e conforme ele será) como criatura física e social, bem como espiritual. Até mesmo se alguém rejeitar as doutrinas da unidade do homem e da imortalidade do corpo, é miopia demonstrar preocupação somente com as dimensões espirituais da vida. Os homens nesta vida, pois, têm mesmo corpos, e não podem viver aqui sem eles. Se, portanto, devemos alcançá-los para o mundo do porvir - se vamos salvar suas "almas" - então isto deve ser realizado através dos corpos deles. Os corpos que estão morrendo de fome dificilmente ficarão impressionados com a mensagem acerca do pão da vida, se nós lhes recusamos o alimento para esta vida. Jesus alimentou a multidão faminta com o pão físico antes de pregar-lhes acerca do pão espiritual (Jo 6.11ss). Os homens não têm muita probabilidade de sentirem sede pela água da vida enquanto estiverem assoberbados pela sede física. Noutras palavras, se os cristãos não mostrarem nenhuma solicitude para com as necessidades físicas e sociais básicas dos homens, neste caso não poderão esperar uma resposta muito positiva da parte deles para sua mensagem espiritual.
A Missão Social da Igreja
A sociedade, hoje está cada vez mais multicultural e diversificada. Este fato empresta o colorido da diferença, sempre benéfico para uma construção mais rica da pessoa e da comunidade, por uma cosmovisão alargada, no desenvolvimento de uma atitude de compreensão empática pelo outro, qualquer que seja o seu CREDO, a sua COR ou o seu STATUS SOCIAL. Constitui um desafio. Porque a diferença também se revela nas problemáticas inerentes ao êxodo das populações, pela sobrelotação de uns espaços geográficos a custo da desertificação de outros e consequente diminuição das condições de vida, do emprego qualificado justamente remunerado, da habitação condigna, da igualdade de oportunidades e acréscimo da violência, da pobreza, da (des) educação e da desordem. Aumentam os desfavorecidos, os dependentes e os delinquentes. E cresce o desafio. A todos os que se encontram em situação de olhar com olhos de ver e sentir com o coração, que se dispoem a estender uma mão sem considerar o que vai trazer no regresso, que pensam que têm uma palavra a dizer, coloca-se uma escolha: a escolha de agir.
A Igreja tem uma ação a tomar.
A multiculturalização a par com a disseminação da tolerância que exige uma sociedade democrática, aberta a pensares diferentes sobre a crença, a vida e a moral mais do que como costume, como princípio, conduz a uma liberalização dos valores, ou deveria dizer, lassidão... que faz perigar o equilíbrio da própria sociedade e coloca em causa o futuro saudável da sua existência, uma vez que dessa mesma existência fazem parte integrante os valores. Aqui se encontra outro desafio.
A Igreja tem uma palavra a dizer.
O papel social da Igreja como garantia da conservação e implementação de valores éticos e morais.
Na família. Pelo incentivo à construção de relacionamentos conjugais fortes, assentes no respeito mútuo e na mútua aceitação, no desenvolvimento de laços de amor e interdependência que privilegiem a partilha de um projeto de vida. Pelo ensino de uma paternidade responsável, encorajadora de uma geração que determina o futuro com solidez integridade e valor.
Na educação. No ensino dos valores morais e espirituais, na construção do caráter, como meio de encontrar resposta às grandes questões da vida e suporte na decisão. Através da dinamização de grupos de jovens e de crianças, que aprendem a relacionar-se consigo, com Deus e com o outro ao tempo em que crescem e se divertem.
Na intervenção. A Igreja tem uma palavra a dizer. Porque não tem apenas opinião, tem sólidas convicções, a Igreja não pode ficar calada quando assiste ao desmoronar do valor do indivíduo em si mesmo, pela perca dos seus valores e pela falta de conhecer o Criador, que tanto o valoriza, de uma forma pessoal. A Igreja tem de elevar a sua voz e gritar de todas as formas que a técnica já inventou a Sua mensagem, que é afinal, a mensagem de esperança e de amor que a sociedade necessita.
O papel da Igreja no apoio social, o rosto visível de uma fé invisível.
Aos desfavorecidos. As bolsas de pobreza num planeta em que a distribuição da riqueza é tão desigual, continuam a crescer. São vítimas da guerra (como em Angola), ou da falta de recursos naturais (como em Moçambique) mas morrem a cada segundo desidratados, desnutridos e doentes. O excesso de uns poderia acabar com a fome de outros. E os poderes político - econômicos poderiam fazer melhor redistribuirão, é verdade! Mas a falta de interesse destes não pode desculpar aqueles a quem Ele deu os recursos do Seu amor.
A responsabilidade da Igreja neste campo é muito grande. A propósito de um episódio em que um discípulo sugeriu abençoar os pobres com o valor de um presente oferecido a Jesus, Este declarou: “Os pobres, sempre os tendes convosco...”. Esta é a verdade. Hoje temos muitos pobres conosco e muita oportunidade para abençoar alguns. Ministrar aos pobres é algo inerente à própria essência da igreja, porque é inerente ao amor e o amor é a razão de ser da igreja. E não é absolutamente necessário sair do nosso país, cidade, bairro, vila ou aldeia para encontrar desfavorecidos... basta abrir os olhos e o coração!
Os dependentes. A autonomia é um privilégio querido pelo ser humano. Alguns já a perderam (ex. idosos), outros ainda não a adquiriram (ex.crianças). Sempre que essa é a situação, encontram-se vulneráveis, diminuídos na sua capacidade de auto - suficiência física ou emocional. Numa sociedade em que a pirâmide etária aponta para o envelhecimento da população como a nossa, esta é uma área de grande carência. A prestação de cuidados e transmissão de afeto podem fazer sorrir outra vez lábios cerrados pela tristeza e fazer nascer um raio de esperança num coração embotado pelo desilusão de uma velhice que se sonhava diferente e mais feliz. Também aqui a Igreja tem uma palavra a dizer... e muitas acções a fazer. Basta tomar a iniciativa de cuidar daqueles que na comunidade em que se insere se encontrem na situação de dependência, pela idade ou pela doença, movidos pela paixão e (com)paixão.
Os delinquentes. São aqueles que preferíamos não ver mas que nos entram “pelos olhos a dentro” todos os dias, ao cruzarmos as ruas da terra em que habitamos. São aqueles que de uma ou de outra forma, por esta ou aquela razão, decidiram (ou talvez não!) desviar-se do caminho do comportamento esperado, saudável para si, para a família e para a sociedade. Revoltados e desesperançados arrastam-se pelos cantos do seu desespero em que, até parece, ás vezes a sociedade os quer manter. Gritam com vozes de silêncio no estender do braço que apodrece... Não se ouve, mas gritam e pedem socorro! A Igreja não pode ficar indiferente! Não pode simplesmente estender um dedo acusador por todas as más escolhas que fizeram vendendo-se ao álcool, á droga, ao sexo... A Igreja pode abrir a porta da confiança, o caminho da esperança para uma vida nova. A Igreja tem a resposta para o grito.
Os que sofrem. Na sociedade deste século os sofrimentos emocionais e espirituais crescem em virtude das expectativas não alcançadas e do ritmo alucinante da vida. E há pessoas que sofrem. Sofrem por relacionamentos quebrados, por não se encontrarem, não se realizarem, não serem tão bem sucedidas nem tão competitivas... Precisam da Igreja. É também essa a sua vocação. Oferecer um ouvido que ouve em empatai e compreensão e que não julga... mas ajuda a encontrar caminhos para fora do sofrimento.
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